Foi uma reunião muito bem sucedida. Por iniciativa de Luiz Gonzaga Bertelli, eleito presidente do CIEE/SP, a entidade promoveu um encontro de especialistas, para discutir o atual quadro da educação brasileira, com ênfase no ensino médio.
Na sua apresentação, o professor Roberto Lobo Leal, ex-reitor da Universidade de São Paulo, fez uma série de considerações sobre as atuais dificuldades enfrentadas pelo sistema. Uma delas, “o gasto mal conduzido”.
Concordamos com a crítica feita, mas pedimos vênia ao ilustre educador para discordar do uso da palavra “gasto”. Ela é entendida como sinônimo de desperdício, quando o que se deseja é afirmar o investimento em educação. Todos sabemos que os recursos para educação podem ser considerados escassos – e foi dessa maneira que o novo ministro (Renato Janine Ribeiro) recebeu o MEC. Houve uma brutal contenção, o que certamente se refletirá nos primeiros tempos da sua atuação. Ele não poderá fazer milagres.
Quando chegou a minha vez, não quis decepcionar as 600 pessoas que lotaram o auditório do Centro de Integração Empresa-Escola de São Paulo. Mostrei que há luz no fim do túnel, “pois há que se ter esperança, apesar do quadro de óbices evidentes.”
Como era preciso abordar “A crítica da educação básica”, destaquei os bons resultados iniciais do Pronatec, no qual a presidente da República deposita tantas esperanças. Mas chamei a atenção para a existência, hoje, de quase 80% de desistências antes de chegar ao terceiro mês dos cursos, o que é um número excessivamente alto.
Temos quase 20 milhões de jovens que não frequentam a escola – e isso explica a imensa quantidade deles que povoam as ruas, como acontece no centro do Rio de Janeiro, assaltando e esfaqueando. O futuro deles seria muito mais digno se eles estivessem nas escolas.
O ensino técnico é vítima até hoje da Constituição de 1937 (Estado Novo). Ela dizia que “o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas.” Quem gostaria de ter um filho submetido a esse tipo de ensino?
A formação dos professores é outro grande entrave em nossa educação. O salário oficial é de R$1.670,00 – em dólares, 570. No Japão, por exemplo, os professores de ensino básico percebem 2 mil dólares por mês. Com o salário no Brasil qual o jovem de classe média que opta pelo magistério? Temos três milhões de professores, mas submetidos a uma formação precária. Temos que melhorar os cursos de preparação dos professores, na dupla condição de conteúdos mais adequados e uma presente interatividade, palavra que pode enriquecer, e muito, o que se passa hoje em sala de aula. A Internet trouxe a possibilidade de avanços educacionais bastante significativos, desde que tenhamos o desenvolvimento de uma política séria no setor. Há muito o que fazer.
Gasto é desperdício
Tribuna do sertão, 12/05/2015