Mais delações, mais revelações, mais prisões, o cerco das pressões contra o governo está se fechando. Além da prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, pela Operação Lava-Jato, há a CPI do BNDES na Câmara, para cuja criação a oposição já obteve o número necessário, sem falar na decisão do Tribunal de Contas da União considerando que as manobras para melhorar as contas públicas, as chamadas “pedaladas”, feriram a Lei de Responsabilidade Fiscal, o que pode constituir crime de responsabilidade da presidente Dilma. É claro que é uma questão discutível, que ainda depende de avaliação jurídica, mas a simples possibilidade já animou alguns oposicionistas a defender abertamente na tribuna do Senado o impeachment da presidente. Para o líder do PSDB na Casa, o relatório do TCU é a justificativa que faltava para pedir o impedimento do mandato presidencial. Por mais improvável ou remota que seja, a perspectiva já serve para criar um mal-estar para o governo.
Por isso, afirmar, como fez esta semana o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a prisão de Vaccari Neto “não traz preocupação ao governo” causa pelo menos estranheza. “Um governo que apoia as investigações jamais fica preocupado”, acrescentou. Será que não fica? O perigo não estará chegando muito perto? Como não se preocupar, se o preso era o responsável pelas finanças do partido de quem governa o país e, nessa condição, acusado de ter recebido propina do esquema de corrupção que atuava na Petrobras? E mais: boa parte das milionárias doações conseguidas pelo tesoureiro para o partido teve origem em empresas investigadas pela Polícia Federal e o Ministério Público, como OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa, UTC e Galvão Engenharia.
Pode-se alegar que ainda faltam provas definitivas, é verdade, mas o acúmulo de indícios e evidências é suficiente para agravar um clima de desconfiança que respinga suspeitas para cima e para os lados. Talvez fosse o caso de aplicar o velho princípio da “mulher de César” para ministros, parlamentares, presidentes da Câmara e do Senado, isto é, que eles não só sejam, mas que também pareçam honestos. Esse é o ônus da condição de homens públicos.
Delúbio Soares, outro ex-tesoureiro do PT (o que terá esse cargo que acaba sendo o caminho mais curto para a cadeia?), afirmou ao ser apanhado no mensalão que “aquelas denúncias iam virar piada de salão”. Não viraram e ele foi condenado a seis anos e oito meses de prisão por corrupção ativa.
Com o fim da impunidade, a atitude de Vaccari foi diferente. Deve ter percebido que não valia a pena debochar da Justiça.