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Got, a semente

 

Lembro de uma visita feita pelo professor Gildásio Amado, na época diretor do Departamento de Ensino Secundário do MEC, à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Distrito Federal (o Rio ainda era a capital da República).  Ele iria falar a alunos e professores da FFCL a respeito da experiência que acontecia, no MEC, de criação dos Ginásios Orientados para o Trabalho(GOT).
                                                    
O lastro da iniciativa poderia ser encontrado em estudos do professor Anísio Teixeira, como se pode observar pela frase a seguir: 
                                                    
Tal escola secundária(propedêutica), como aliás a escola secundária de todo o mundo, sendo preparatória para o ensino superior, não visava a dar nenhuma educação específica para ensinar a viver, ou trabalhar, ou produzir, mas simplesmente ministrar uma educação literária, que era toda a  educação que a esse tempo se conhecia.”
                                                      
Como se nota, havia uma forte reação, já naquela época, ao sentido propedêutico do ensino médio, sem nenhuma preocupação mais séria com a profissionalização.  O que vem desde os tempos do Estado Novo(1937), quando a emenda constitucional estabeleceu que “o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas”.  Era uma clara discriminação, que infelizmente se estendeu até os dias de  hoje, embora haja um esforço oficial para disfarçar esse absurdo.
                                                       
Voltemos ao educador Gildásio Amado.  Foi professor titular do Colégio Pedro II e pertencia a uma família das mais ilustres  do  Nordeste(Sergipe), de onde eram os seus muitos irmãos, entre os quais Genolino Amado, Gilberto Amado e Gilson Amado, e também o  primo famoso Jorge Amado.  Além dos GOTs, Gildásio, como nos diz o seu filho, Embaixador André Amado, titular do Brasil na Bélgica, foi autor de uma série de importantes realizações, no âmbito de atuação do Ministério da Educação, como se pode lembrar: implantação das chamadas “classes experimentais” (1959), primeira tentativa de flexibilização do currículo rígido nesse ramo de ensino; a proposta, inspirada no ensino secundário da  Inglaterra, de um curso ginasial com tronco comum de dois anos e ensino diversificado na 3ª. e  4ª. séries, com a inclusão de matérias técnicas, a que denominou “Ginásio Moderno”(1957), que depois retornou com o nome de Ginásio Orientado para o Trabalho; o estímulo à implementação da orientação educacional; a instituição da equipe de planejamento do  ensino médio, início do famoso Premem,  bem como a criação do Centro de Treinamento de Professores de Técnicas Industriais, Comerciais e Agrícolas.
                                                      
Outra marca deixada por Gildásio Amado, de brilhante passagem pelo MEC, foi a Campanha de Aperfeiçoamento do Ensino Secundário, responsável por muitos cursos oferecidos aos mestres brasileiros.  No meu caso, tenho com ele uma dívida de gratidão, pois, como Secretário de Estado de Educação,  inaugurei cinco escolas via Premem.  É claro que nada disso pode ser esquecido.

Diário da Manhã (GO), 15/04/2015