Estamos vivendo em nosso país tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, especialmente se considerarmos a educação pública. Os resultados do Enem são catastróficos. Houve uma queda de 7,3% no desempenho médio em matemática. Na redação foi pior ainda: 9,7%. Vamos caminhando para o fundo do poço.
Dos 5,9 milhões de candidatos, 529 mil tiraram nota zero na redação sobre publicidade infantil. Ou seja, são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares. O que esperar dessa geração?
Quando em um universo de quase 6 milhões de alunos só 250 tiraram a nota máxima (mil) na indispensável redação, pode-se inferir que estamos diante de uma fase caótica, a exigir providências que não podem mais tardar. Só o discurso bonito não produz efeitos práticos.
O argumento de que houve um suave aumento nas notas em ciências humanas, ciências da natureza e linguagens não convence. Na média, de um ano para o outro, houve uma diminuição de 1% na nota geral. É com esse quadro que vamos oferecer competentes recursos humanos para ampliar o atendimento ao ensino superior? Todos dizem que poderíamos estar com 10 milhões de universitários (temos 7 milhões), mas de que vale crescer o número com pessoas literalmente incompetentes?
A análise do fenômeno da redação enseja curiosas observações. Metade dos que tiraram zero receberam essa nota porque houve fuga do tema. Ou seja, embromação. Cerca de 13 mil copiaram o texto motivador e ainda houve 955 que ofenderam direitos humanos. Não se pode culpar a escolha do tema pelo resultado, pois se os alunos tivessem sido bem preparados com uma boa base de leitura, isso não teria ocorrido.
Em uma conversa de horas com o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, um profundo conhecedor do nosso vernáculo, ouvimos também críticas ao enunciado das questões. Foi taxativo: "Nem eu, com a minha experiência, seria capaz de responder a todas as perguntas sobre língua portuguesa. Fiquei abismado com a falta de objetividade. Aliás, fiquei abismado também com a mania da pegadinha, que empolgou os examinadores".
Como se vê, há problemas em todas as frentes. A educação básica cresceu em números, é certo, mas não corresponde às expectativas no que tange à qualidade. Enquanto se discute o sexo dos anjos, os resultados concretos estão aí, diante de todos, mostrando que há um longo caminho a ser percorrido.
O curioso é que, em todo esse processo, pouco se fala na formação e no aperfeiçoamento dos professores. Temos quase 3 milhões deles no Brasil inteiro, mas é sabido que a qualidade do que se ministra nos cursos de magistério deixa muito a desejar. Para acabar com essa vergonha, só uma ampla reforma.