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A encruzilhada dos BRICS

 

O contraste entre os países do BRICS pôde ser medido ontem pela ambição de seus representantes no debate promovido pela Globonews aqui no Fórum Econômico Mundial em Davos.

De um lado, Índia e China falando de um crescimento do PIB em torno de 7% a 8% nos próximos anos, enquanto do lado do Brasil, com a perspectiva de crescimento perto de zero este ano, o ministro Marcelo Neri teve que fazer uso de metáforas para estabelecer o país como um membro efetivo do grupo, que vem decepcionando o criador do acrônimo, economista Jim O´Neel, e um dos principais investidores internacionais, o presidente da Nissan-Renault Carlos Goshn.

Disse Neri que o país está retornando ao "caminho do meio" que havia escolhido no primeiro governo Lula, unindo uma política econômica de mercado ortodoxa, favorável à iniciativa privada, com a manutenção de programas sociais. Ele citou o ministro da Fazenda Joaquim Levy como "um dos melhores economistas que se poderia encontrar", e destacou que sua origem na escola de Chicago, dentro de um governo de esquerda, fará com que os embates de tendências na sociedade explicitados nas eleições presidenciais encontrem uma convergência.

Com a mediação de Silio Bocanera, o programa será apresentado amanhã na Globonews. A definição de Goshn resume bem o estado de espírito em relação ao BRICS: “Nós continuamos a investir nesses países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) por que investimos não para os próximos dois ou três anos, mas para os próximos 10 a 15 anos, e sabemos do potencial dessas economias. Por isso estamos decepcionados".

O representante da China, Justin Lin, professor da Escola Nacional do Desenvolvimento da Universidade de Beijing, justificou o fato de o país não crescer mais como em anos anteriores, a taxas superiores a 10% ao ano. Segundo ele, não é possível manter a média dos últimos 36 anos, em que o país cresceu a 9.7%, por que a situação mundial mudou muito, a fraqueza das economias internacionais não permite que a China mantenha exportações fortes e faz com que se volte mais para o consumo interno.

Mas acrescentou que a China será capaz de manter um crescimento médio de 7% nos próximos anos, mantendo-se como "a máquina de crescimento do mundo". Da mesma maneira, Arun Jaitley, Ministro das Finanças do novo governo da Índia, disse que o país fará as reformas necessárias para voltar a crescer a taxas de 8% ao ano, e salientou que a queda do preço do petróleo vai ajudar a Índia a controlar a inflação.

Ao contrário, o representante da Rússia Alexei Koudrin, Reitor da Escola de Artes Liberais e Ciências da Universidade de São Petersburgo, disse que a Rússia vai ter que aprender a viver com preços de petróleo mais moderados". Para tanto, será preciso fazer as reformas estruturais que foram postergadas e diversificar a economia, o que a longo prazo pode ajudar a melhorar a situação econômica.

Também a África do Sul, segundo seu Ministro de Finanças Nhlanhla Musa Nene, se esforçará para retomar as reformas estruturais que permitam crescimento econômico com programas sociais de apoio aos pobres, embora tenha salientado que serão necessárias medidas de contenção de despesa para reencontrar o equilíbrio fiscal, mesma situação do Brasil, que foi representado pelo Ministro Marcelo Neri, que salientou sempre a queda da desigualdade de renda no Brasil desde 2011.

Ele admitira em outro debate que "houve uma redução no crescimento e uma estabilidade na queda da desigualdade. Voltamos aos níveis de desigualdade dos anos 80 na América Latina e 60 no caso brasileiro". Mas ontem destacou que mesmo com um crescimento econômico baixo nos últimos dois anos, de 0,8% ao ano do PIB per capita, capita, a renda média das pessoas medidas pelas pesquisas domiciliares cresce 5,5% ao ano no mesmo período".

Neri usou muito a expressão "caminho do meio", referindo-se à estratégia chinesa de uma economia de mercado com forte atuação governamental, para dizer que o objetivo da nova equipe econômica é retomar o caminho do crescimento com distribuição de renda que foi a tônica do país antes da crise financeira de 2008.

O Globo, 23/01/2015