O "Painel do Leitor" publicou, nesta semana, carta em que um cidadão reclama das orações que os católicos foram aconselhados a fazer pedindo chuva. Na opinião do missivista, em vez de pedir chuva, os católicos deveriam fazer uma cruzada para impedir os atentados ecológicos, sobretudo o desmatamento das florestas.
Em todas as religiões, mais precisamente no núcleo de qualquer religião -monoteísta ou politeísta, primitiva ou articulada-, situa-se a fragilidade do ser humano diante das agressões de uma natureza ainda não dominada pela nossa civilização. Povos selvagens batem tambores e índios batem atabaques pedindo chuva. No próprio paganismo, havia sacrifícios rituais aos deuses específicos de cada necessidade natural, inclusive de chuva para o crescimento das lavouras.
No catolicismo, há até mesmo uma oração, "Ad petendam pluviam", para pedir chuva, como há outra, "ad repellendas tempestates", que é bastante parecida, mas com pólo invertido, não pede chuva, pede bonança.
Em linhas gerais, essas orações, que encontram equivalentes no culto de todas as religiões e até mesmo no mecanismo de defesa de quem não tem religião nenhuma, formam a linha de primeiro combate do ser humano diante das forças que ainda não domina. É sinal de fragilidade, sim, mas de humildade também, que é agradável aos deuses.
Quanto ao desmatamento e à poluição, o problema transcende ao campo religioso. É questão para a sociedade e para os governos combaterem e punirem legalmente. Embora a situação se agrave a cada dia, já há indústrias que destinam dois terços de suas terras ao replantio de árvores. Devorando toneladas de madeira todos os dias, é necessário garantir a oferta de matéria-prima. A mesma mentalidade, aplicada a outras indústrias, poderá garantir a estabilidade ecológica que pretendemos.