São três horas de trem, saindo de Viena. A paisagem é quase alpina, arrumada, asséptica como um postal. O trem para numa cidade mais ou menos amaldiçoada pela história: Linz. Ela não tem culpa de nada. Apenas foi a cidade que Hitler amava, que considerava a "sua" cidade. Na verdade, o ditador nazista nasceu em outro canto, viveu em Viena, Munique e Berlim.
Linz é uma cidade como outra qualquer, sem o fascínio de Viena, sem a glória de Salzburgo. É uma cidade cinza, não fosse a parada do trem e seria apenas uma tabuleta na plataforma. Mas Salzburgo é a cidade de Mozart, das igrejas que marcam seu chão, as belas fontes copiadas dos italianos, o rio que a atravessa sem pressa, mais paisagem do que rio e a enorme fortaleza lá em cima, falando de tempos passados e passadas glórias.
No outono, o palácio do festival está fechado, todos já debandaram em busca de outras emoções e Salzburgo resta, incólume, para os curtidores de Mozart. Aí sim, é pegar a programação, no Palácio Mirabell, na mesma Marmorsaal onde Mozart estreou aos cinco anos.
Tudo está lá: o diabo é que sempre aparece um turista querendo ver os cenários de "The Sound of Music" ("A Noviça Rebelde"). Um austríaco, como Robert Wise, teria de aproveitar os cenários de Salzburgo para contar a história da família Trapp.
Mas além de Mozart, a cidade em si, pequenina, boa de chá, boa de chocolates, velhinhas coradas vendem castanhas e figos, as lojas se preparam para o Natal, não longe dali nasceu o hino oficial da grande noite cristã, o "Noite Feliz".
Ao longe, a fronteira com a Alemanha, a Baviera alpina, azul e branca. O carro me leva até Berchtesgaden, o santuário nazista. Ali foi a casa de Hitler. Lá de cima ele via as montanhas da Áustria, contemplava Salzburgo e ouvia Wagner. Eu prefiro Mozart.
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