Nos últimos anos, devido aos grandes eventos esportivos mundiais – com destaque para os Jogos Olímpicos de 2016 - o Rio de Janeiro vem sofrendo uma verdadeira mutação urbana. O volume de investimentos na capital fluminense se multiplicou como nunca. Os últimos dados disponíveis estimam gastos voltados para as Olimpíadas em aproximadamente R$37 bilhões - em obras de infraestrutura, mobilidade e projetos associados diretamente ao evento.
Pontos positivos foram ainda a introdução de processos e técnicas de gestão inéditos na administração municipal – a cultura de desempenho com foco em resultados -, gestão orçamentária eficiente e a elaboração de um planejamento estratégico 2009-2016 não limitado, portanto, a metas de curto prazo.
O mau exemplo da Olimpíada da Grécia em 2004 tem seus contrários na Barcelona de 1992, Sidney de 2000, e Londres de 2012, que, apesar das diferenças no tempo, se estruturaram, aproveitando oportunidades que se reverteram em benefícios de longo de prazo, convergindo com os anseios da população.
A experiência nestes países demonstrou ainda que o ciclo de preparativos para eventos esportivos de grande porte - do plano à realização - dura aproximadamente sete anos, algo que o Rio de Janeiro, acertadamente abraçou, reconhecem os autores do livro “Depois dos Jogos - Pensando o Rio para o pós 2016”, organizado pelo economista Fabio Giambiagi, ao contrário do que se observou no país quando da realização da Copa - um espetáculo de improvisações.
O capítulo assinado por Giambiagi em parceria com o economista Luiz Crysostomo alerta que o primeiro passo para lograr melhorias é definir ‘que cidade se quer ser e quais dimensões devem ser priorizadas’. Para os autores do capítulo, educação, mobilidade, coesão social e produtividade são temas urgentes a serem pensados. Por fim, olhando para frente, a reinvenção da cidade de acordo com Giambiagi e Crysóstomo, passa por um conjunto de iniciativas como inserir o Rio de Janeiro no calendário mundial de competições esportivas e outros eventos de grande porte; transformação da cidade em centro de pesquisas tecnológicas e de irradiação de startups, aproveitando o fato de abrigar algumas das melhores universidades e centros de pesquisas do país; maior investimento na economia criativa - uma das vocações da cidade - e nos serviços e infraestrutura voltados para o turismo.
Também um estudo da Macroplan, consultoria especializada em planejamento estratégico e cenários futuros, aponta muitas possibilidades para o Rio. Como ponto de partida, a consultoria indica a premência de uma agenda de desenvolvimento econômico alinhada aos novos desafios da economia.
“A relevância da cidade na economia estadual não está vinculada a recuperar as indústrias que perdeu. O Rio possui importantes pólos como o do petróleo e gás, o farmacêutico, o maior parque tecnológico do Brasil, uma expertise em turismo, cultura e demais serviços associados. Uma agenda indutora de serviços, especialmente os empresariais de mais alto valor agregado, é fundamental para o futuro da cidade. O desafio é atrair e desenvolver estes serviços. É preciso um choque de produtividade e qualidade nos serviços”, destaca o diretor da consultoria, Gustavo Morelli.
Da agenda para construir um futuro promissor para a cidade do Rio de Janeiro mapeado pela Macroplan o estímulo ao empreendedorismo também ocupa lugar de destaque. O Rio de Janeiro tem o dobro da proporção de funcionários públicos e militares de São Paulo, enquanto a proporção de empregadores é 30% menor. Estudo do Banco Mundial indica que entre 22 cidades no mundo, o Rio ocupa a distante 13º posição em facilidade de fazer negócios. “Para se abrir uma empresa no Rio de Janeiro são necessários 54 dias, contra 9 dias, em média, em cidades da OCDE, e 30 na média das cidades da América Latina e Caribe” aponta Morelli.
Outra iniciativa relevante será intensificar os esforços para desenvolver e atrair capital humano de qualidade: boas escolas, universidades, centros de formação profissional. Dois desafios ainda não superados devem ser considerados: a consolidação da política de pacificação nas favelas e a melhoria da mobilidade urbana. O tempo de deslocamento para o trabalho de quem mora na Região Metropolitana do Rio é em média, 51 minutos, mais do que a média de São Paulo, onde o tempo gasto neste deslocamento é de 47 minutos.
As demandas dos municípios que compõem a região metropolitana são evidentes e convergentes quanto a questões econômicas, sociais e ambientais. O nó górdio, segundo a Macroplan, é a integração e articulação das políticas públicas, ainda muito fragmentadas.