A Pulsação Humana
As imagens desta série contínua examinam a universalidade da experiência humana. Procuro captar a dinâmica dos movimentos ou a inter-relação da postura dos indivíduos dentro do espaço físico. Seja isso a pulsação e a exuberância juvenis, que asseguram a espontaneidade e a alegria da imagem registrada; seja, contrariamente, o sentido de reflexão do sujeito em face de dificuldades.
Desejo maximamente fixar as condições culturais e sociais do espaço que examino, assim como aspiro gerar o interesse daqueles que examinam as minhas imagens. Há, em algumas delas, ambiguidade de evento ou de ação, o que, parece-me, desperta curiosidade e maior indagação. Questionamentos são, por certo, tão relevantes quanto respostas.
O ângulo da tomada é relevante. Com alguma frequência, esforço-me por registrar pontos de vista que me surgem frequentemente em sonhos: flutuando ora acima, ora a grande distância, mas sempre ligados ao momento. Muitas das minhas imagens apresentam sutis minúcias; por isso, as impressões são maiores, com um mínimo de 45cm até 90 cm de largura.
Minhas influências mais relevantes nas presentes séries são os pintores Hieronymus Bosch e Anna Mary Moses, os fotógrafos Henri Cartier-Bresson, Sebastão Salgado e Robert Frank, e os trabalhos da cineasta Wim Wenders.
Aprecio o detalhe, a composição e a flexibilidade oferecida pelo filme 6 x 4.5cm e tenho usado a câmera Mamiya 645 nos últimos sete anos. As imagens iniciais desta série foram feitas com filme e impressas por mim ou sob minha estrita supervisão. Mas, desde 2009, tenho seletivamente utilizado câmera digital para imagens que não requerem o tipo de detalhe de sombra obtido por filme. Todas as imagens são inalteradas, exceto para o controle tradicional de contraste da revelação em sala escura, para clarear ("dodging") ou escurecer ('burning"). Para a impressão prateada, uso processo de tonalidade à base de selênio, de modo a intensificar a presença e o delineamento da imagem, e assegurar a sua qualidade arquivística. Impressões digitais empregam o efeito bitonal em Photoshop, de modo a emular o processo que se obtém com o selênio.
Paredes e Espaços
A parede é uma obstrução. Ou uma ponte. Ou uma janela. Sobre a sua face estão gravadas as marcas do homem: esforços quotidianos, nascimentos, guerras, decadência. A família da parede inclui a cerca “irmã”, a pedra “irmão”–também a ausência dissos, em diversos espaços abertos ou confinados.
Os povos antigos e as atuais sociedades indígenas sempre acreditaram que a vida está em toda a parte, até nos inanimados. A presente Série, que iniciei três anos antes da Série "A Pulsação Humana", pretende revitalizar aquela crença imemorial. Acho, ao mesmo tempo, compensador e instigante colher inspiração de objetos e áreas tidas por todos como lugares comuns.
As paredes são muitas vezes "abertas" no sentido de capitalizar imediato reconhecimento público; ou então exigir interpretação. E esforço-me por captar a miríade de permutações de cada tema. Por vezes, a metáfora assalta-me o pensamento de imediato, ou simplesmente materializa-se a reflexão das condições: as minhas, dos tempos, ou do anônimos Outros.
Sigo trabalhando nesta série atualmente. As paredes e espaços que ultimamente optei por interpretar e comemorar aqui são as que falam fortemente comigo.