Folha de São Paulo (22.05.2002)
A escritora Zélia Gattai, 85, tomou posse da cadeira nº 23 da ABL (Academia Brasileira de Letras) na noite desta terça-feira, lembrando a trajetória pessoal e profissional do marido, Jorge Amado, que morreu em agosto do ano passado. Zélia foi eleita para ocupar a cadeira de Jorge na ABL, que também já tinha sido ocupada por Machado de Assis.
Em seu discurso de posse, que começou às 21h e durou cerca de uma hora, Zélia contou sobre sua infância e a chegada da família a São Paulo, num grupo de imigrantes italianos. A história da família inspirou seu primeiro livro, "Anarquistas, Graças a Deus".
Além de lembrar os trabalhos mais importantes de Jorge Amado, como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Tereza Batista Cansada de Guerra", ela revelou um segredo: Jorge Amado teria desistido da diretoria do Partido Comunista Brasileiro em 1955 porque as obrigações partidárias não lhe deixava tempo para a literatura".
Apesar de ter sido diretor do "Partidão" durante a juventude e de ter cultivado a amizade do líder comunista Luís Carlos Prestes, o escritor era amigo do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Zélia justificou essa atitude com uma frase do próprio marido. "Somos adversários políticos. Mas isso não nos impede de sermos amigos, de eu ser seu admirador."
Na cerimônia, Zélia Gattai recebeu uma medalha das mãos do escritor Carlos Heitor Cony, ocupante da cadeira nº 3. O escritor Antonio Olinto, que ocupa a cadeira nº 8, entregou a Zélia o diploma de acadêmica.
A nova acadêmica terminou seu discurso com a seguinte frase: "Nesta casa entrei, hoje conduzida pela estrela de dona Angelina, iluminada por outra estrela que surgiu recentemente no céu - a que brilha mais do que todas".
07/06/2006 - Atualizada em 06/06/2006