Cristiane de Cássia
O GLOBO (06.11.2003)
Cerca de 150 pessoas compareceram ontem ao enterro da escritora Rachel de Queiroz, sepultada pela manhã no Cemitério São João Batista. Além de parentes e amigos da família, estiveram presentes o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, o governador do Ceará, Lúcio Alcântara, e os acadêmicos Arnaldo Niskier e Nélida Pinõn. Oitenta fuzileiros navais representaram sua corporação. Rachel, primeira escritora a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, era madrinha da guarda dos fuzileiros. Integrantes da banda da corporação executaram a marcha fúnebre.
Cumprindo um desejo da escritora, o corpo de Rachel de Queiroz foi sepultado no jazigo da família, ao lado do marido com quem ela viveu 42 anos, o médico Oyama de Macedo, que faleceu em 1982. Mas, segundo o presidente da ABL, Alberto da Costa e Silva, existe a possibilidade de que, daqui a um ano, caso a família concorde, os restos mortais da acadêmica e de seu marido sejam transferidos para o Mausoléu da Academia, no mesmo cemitério, como já foi feito com os de Machado de Assis e sua mulher, Carolina. Durante o enterro, como última homenagem, um militar leu um texto de Rachel sobre os fuzileiros: “Quando se houverem acabado os soldados no mundo, quando reinar a paz absoluta, que fiquem pelo menos os fuzileiros, como exemplo de tudo de belo e fascinante que eles foram”.
Rachel de Queiroz morreu anteontem aos 92 anos, em casa, vítima de infarto e falência múltipla dos órgãos. Seu corpo foi velado no Salão dos Poetas Românticos da Academia Brasileira de Letras, de onde partiu para o cemitério às 9h. Antes disso, o padre Fernando Bastos de Ávila celebrou missa de corpo presente e o presidente da ABL, Alberto da Costa e Silva, discursou em nome da instituição:
- É de forma comovida que eu e nossos colegas da Academia nos recusamos a lhe dizer adeus - disse.
A acadêmica Nélida Piñon lembrou com carinho o fato de Rachel de Queiroz ter lido os originais de seu primeiro livro, escrito aos 16 anos, e disse ser grata por ela a ter incentivado a seguir a carreira literária:
- Sou gratíssima a ela e sempre a reverenciava. Quando ela entrava no salão da ABL, sempre me punha de pé.
Nélida queixou-se da ausência de autoridades no funeral. O sobrinho da escritora, Daniel Queiroz Salek, explicou, no entanto, que a governadora do Rio, Rosinha Matheus, e a prefeita de São Paulo, Martha Suplicy, enviaram flores. O Ministério da Cultura também mandou representante ao velório, já que o ministro Gilberto Gil encontra-se em viagem oficial à África com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, participou do velório e do sepultamento como amigo da escritora, sem mencionar que estivesse representando o governo federal. Apesar de não ter nascido no Ceará, Ciro Gomes se considera conterrâneo de Rachel porque viveu lá e governou o estado:
- Ela era uma pessoa universal, que retratou com fidelidade natural as coisas da nossa aldeia cearense - disse.
O ministro destacou o papel político de Rachel quando militante comunista. O governador do Ceará, Lúcio Alcântara, também participou do velório. Ele disse que todo o Brasil sente a perda da escritora, mas no Ceará a dor será maior.
06/06/2006 - Atualizada em 05/06/2006