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O jornal como grande agente da educação nacional

 

Luiz Garcia

 

Roberto Marinho era amigo de meus pais e devo a ele um emprego indispensável em hora de grande aperto. Eu o admirava por isso. Ele editava um jornal que, dizia-se na minha turma, parecia amigo de todos os ricos, principalmente dos americanos ricos. Eu o olhava atravessado por isso.

E mais: Roberto Marinho fora criado num ambiente ítalo-brasileiro de rígida moral. O que não o impedira de praticamente salvar a vida do mais maldito dos dramaturgos brasileiros, o tísico Nelson Rodrigues.

Aos poucos o leitor, o intelectual e o jornalista foram descobrindo que a abundância de paradoxos não denunciava contradições; antes, como o tempo aos poucos foi provando, revelava lucidez e imaginação em graus pouco encontradiços na primeira metade do século passado. E uma forte paixão pelo trabalho: “...Jornalista por escolha e por destino, vedes em mim o título de que mais me orgulho... toda uma vida dedicada à imprensa... Compreendo... que o jornal é o grande agente da educação nacional”.

É provável que Marinho tenha sido o primeiro grande jornalista a descobrir a vocação do veículo para o serviço ao cidadão e para a educação da sociedade.

Outros, antes e depois dele, enfatizaram uma suposta missão da imprensa de produzir a transformação social. Em meados do século passado, ele deve ter sido dos primeiros, e não apenas no Brasil, a procurar mostrar a variedade de caminhos, em vez de apontar uma única opção.

Nada foi tão simples como parece ser aqui descrito: profundas e bruscas transformações políticas e sociais, em todo o mundo, freqüentemente levavam os meios de comunicação a se entregarem mais ao proselitismo do que à educação. De qualquer forma, com avanços e recuos - tornados mais dramáticos e perigosos quando a mídia se tornou, além de impressa, eletrônica.

Na travessia das décadas de profundas transformações sociais e de uma maré de guerras, localizadas e generalizadas, a mídia total mantinha, aos olhos de Roberto Marinho, a meta de simultaneamente seduzir o leitor (porque sempre será uma atividade industrial e comercial, comprometida com o lucro) e prestar-lhe serviços indispensáveis - porque também sempre será uma obra pública.

Passaram-se mais de 40 anos. Ao vê-lo morto, velado com serena tristeza por d. Lily, carinhosamente visitado pela secretária e pelo motorista há muito aposentados, assim como pelos presidentes da República, do Senado e da Câmara, o espectador é forçado a reconhecer como era peculiar esse poderoso ator que detestava a boca de cena.

Mas não é possível negar ao leitor dados de sua vida fora do palco.

Roberto Pisani Marinho nasceu em 3 de dezembro de 1904, no Rio de Janeiro. Foi o primeiro dos cinco filhos de Irineu Marinho Coelho de Barros e de Francisca Pisani Barros Marinho. Seu pai, jornalista renomado, fundou os jornais “A Noite”, em 1911, e O GLOBO, em 1925.

Fez seus estudos nos colégios Paula Freitas, Anglo Brasileiro e Aldridge, no Rio de Janeiro. É doutor honoris causa pelas universidades de Brasília, Federal de Uberlândia, Federal do Rio Grande do Norte e Gama Filho. Em 1993, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 3 (cujo patrono é o historiador Francisco Varnhagen). Foi uma eleição relâmpago; em 15 minutos seu nome foi escolhido para substituir o companheiro de TV GLOBO Otto Lara Resende. Recebeu incontáveis prêmios, condecorações, títulos nacionais e internacionais pela sua atuação como jornalista e empresário.

Em dezembro de 1945, Roberto Marinho se casou com Stella Goulart Marinho, com quem teve quatro filhos: Roberto Irineu, Paulo Roberto (falecido em 1970), João Roberto e José Roberto. Tem 11 netos (Maria Antonia Marinho, Roberto Marinho Neto, Stella Marinho, Rafael Marinho, Rodrigo Marinho, Paula Marinho, Luiza Marinho, Flavia Marinho, Paulo Marinho, Isabela Marinho e Ignácio Marinho) e cinco bisnetos (Pedro Marinho, Rodrigo Marinho, Viviane Marinho, Sofia Marinho e Felipe Marinho). Roberto Marinho deixa viúva Lily de Carvalho Marinho.

06/06/2006 - Atualizada em 05/06/2006