Douglas McMillan
O Globo (30.12.2005)
Não é todo dia que um imortal da Academia Brasileira de Letras toma posse da presidência citando a cantora Maria Rita. É só uma das “modernidades” que, parece, vão povoar a gestão do pernambucano Marco Vinícios Vilaça, que fala aqui de seus planos para 2006 e também de MPB, internet, fardos e fardões.
Qual é a sua principal meta?
MARCOS VINÍCIOS VILAÇA: A ABL precisa dizer o que faz. Criamos a biblioteca mais moderna do Brasil e temos que atrair as pessoas para cá, por exemplo. Precisamos desabotoar o fardão da Academia. Mas não tirá-lo. Sem ele, perdemos a autenticidade.
É uma mudança?
VILAÇA: Meus antecessores já propunham isso. Vou só insistir. Agora, quero acelerar. Acelerar a internet, por exemplo. Nosso sistema não interage, é lento.
O senhor usa muito a internet?
VILAÇA: Veja esse computador. É novo. O que estava aqui era antigo, lento. Pesquiso qualquer coisa que precise, até se chove na minha terra. Também converso com meus netos no MSN (programa de mensagens instantâneas).
Mas o que vai ser feito de novo na ABL?
VILAÇA: Quero fazer um ciclo de conferências paralelo ao de sempre. Um trata dos fundadores, dos centenários, de escolas literárias. Tudo isso é adequado. Mas pretendo começar outro em abril que fale de literatura e música popular, e cozinha, e futebol... Temas mais abertos, sem perder a tradição. Temos que ter a coragem de sermos conservadores no que é bom.
E o que é bom?
VILAÇA: Temos que continuar a distinguir cultura de massa de cultura popular. Não podemos cuidar de cultura de massa. Não é nossa política. Mas de cultura popular, sim.
Há orçamento para essas idéias?
VILAÇA: Não me impressiono com orçamento pequeno. Dizem-me que o orçamento não prevê isso ou aquilo. Mas orçamento é isso, é o que falta conseguir.
O senhor mencionou também a intenção de se aproximar das academias da América Latina, da Espanha e de Portugal.
VILAÇA: Sim. Vários acadêmicos têm bom acesso a elas num nível pessoal. Nélida Piñon na Espanha, Ivan Junqueira no Chile, Lêdo Ivo no Paraguai e Uruguai, e há outros. O que quero é institucionalizar isso.
Com que propósito, exatamente?
VILAÇA: Divulgar nossos autores lá fora e divulgar os de fora aqui. Esses autores jovens, não creio que tenham muito acesso a Portugal. O duto seria a Academia.
A ABL quer se aproximar dos novos?
VILAÇA: Sim! Vamos debatê-los, chamá-los aqui. Já acontece, mas vou aumentar peso e medida disso.
De quais deles o senhor gosta?
VILAÇA: Dos novos? Ah, nome eu não dou. Mas me impressiona muito essa ausência de espartilho deles (risos). Não estão presos a estruturas. O momento me interessa demais.
Como os imortais receberam a menção a Maria Rita?
VILAÇA: Gosto dessa música. “Alegria quem dá é Deus, tristeza é a gente que faz”. Isso não é bonito? E por que não dizer? Por que só o Leminski ou, não sei, o Bilac são bons? Precisamos chamar a atenção da intelectualidade para os nossos letristas. Não é só Chico Buarque, não. O Lenine, por exemplo. É um poeta fantástico. Quer saber? Vou trazê-lo aqui. Depois ele aproveita e dá uma canja!
06/06/2006 - Atualizada em 05/06/2006