A rapidez da abertura de horizontes do papa Francisco encontrou a previsível reação do conservadorismo episcopal no último sínodo. Pouco mais de metade de seus membros manifestou-se contrário à acolhida nítida aos homossexuais na Igreja, bem como à comunhão aos divorciados.
Mas Francisco, nessa mesma sequencia, foi à decidida remoção dos opositores, transferindo o principal deles para o posto simbólico de protetor da Ordem de Malta. As surpresas não se detêm no pronunciamento da Pontifícia Academia das Ciências, em passo decisivo para a conciliação da fé e do conhecimento da realidade. Deus não tem uma "vareta mágica" para criar o mundo, e são perfeitamente conciliáveis com o ensino cristão o Big Bang ou a teoria da evolução ou mesmo - e num prenuncio contundente - outras perplexidades que nos revelem o desvendar do cosmos.
De logo, também, Francisco descartou a chamada teoria do "Design Inteligente", endossada por Bento XVI, na sequencia às teses do cardeal Schoenborn, de Viena. Não há por que acreditar numa finalística preconcebida à tramitação do curso do mundo no tempo e espaço do seu ser.
No remate da reabilitação de Galileu, a Igreja de Francisco é a do desmonte da fieira multissecular das heresias, que levaram à fogueira Giordano Bruno e tantos outros, na convicção das suas verdades contra a férula da Inquisição.
O papa argentino nos alforria, de vez, da prisão, sob palavra, das crenças divorciadas da realidade pelos dogmas. A agenda da abertura deu-se conta, realisticamente, da inércia do tradicionalismo, num mundo que reencontra a humanidade e descarta eleitos ou preferidos no empenho da salvação. Para além da fé estrita, esse novo enlace dos homens nesta Igreja de Francisco confronta o radicalismo inédito do abate do outro, em que desponta o tenebroso Estado Islâmico dos nossos dias.