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Zuenir e Thiago

 

Entre as desditas da Academia Brasileira de Letras, José Cândido de Carvalho, autor de grandes sucessos ( "O Coronel e o Lobisomem"), dizia que o pior dia para os acadêmicos era aquele em que um deles morria. Ilha de cordialidade, que se transformava em amizade de infância, a ausência de um é como perda de família.

Recentemente, passei por sério problema emocional para votar no substituto de Ariano Suassuna.

Entre outros candidatos havia dois queridos amigos que mereciam a precária e discutível imortalidade acadêmica: Thiago de Mello e Zuenir Ventura.

Por motivo de saúde, não tenho frequentado a academia, mas alguns colegas me informaram que o Zuenir estava eleito antes mesmo da votação regulamentar.

Telefonei para ele dizendo que votaria em Thiago de Mello, grande poeta, traduzido em várias línguas, sobretudo pelo poeta chileno Pablo Neruda.

Sabendo antecipadamente que Zuenir seria eleito, disse-lhe que, se dependesse de um único voto, este voto seria o meu. Mas Thiago, que esteve preso comigo na PE da rua Barão de Mesquita, não podia passar por uma eleição com apenas um voto, que seria o meu. Estou satisfeito com a eleição do Zuenir.

Contudo, se há um escritor que mereça integrar a academia, é o autor de "Estatuto do Homem", o poema brasileiro mais traduzido em todo o mundo.

Recentemente, ganhou um prêmio internacional dos mais prestigiados. Antes da eleição, falei com Zuenir explicando o motivo pelo qual não votaria nele, também um amigo que mereceria o meu voto.

Confesso que muito me custou não votar no Zuenir, mas tenho consciência de que votei num dos maiores poetas contemporâneos, cujo nome já pertence à literatura brasileira e à resistência contra a ditadura.

Folha de S. Paulo (RJ), 02/11/2014