Dia de eleição é fogo. O lugar comum estabeleceu que o voto é a expressão máxima da democracia, daí que é considerado um dever cívico. A consulta ao povo é mais ou menos como as antigas giletes: têm dois lados.
Na Grécia Antiga, considerada clássica, não se usava cédulas de papel e a urna eletrônica estava mais longe do que a constelação da Ursa Maior.
Os votantes usavam conchas. Quando, por qualquer motivo, não queriam que determinado candidato fosse eleito, escreviam o nome dele numa concha daí surgiu o ostracismo que até hoje persegue alguns políticos que, ao contrário de Lula, custam a chegar lá.
Algumas consultas feitas ao povo revelaram-se nefastas. Quando Pilatos perguntou se devia libertar Barrabás ou Cristo, a plebe preferiu Barrabás e mandou Cristo para o calvário.
Pulando de Jerusalém para Roma, e pulando alguns séculos, Mussolini perguntou ao povo se preferia manteiga ou canhão.
Quando sentiu que perderia a guerra, Hitler não pensou em Dilma ou Aécio, mas colocou duas hipóteses aos alemães: "Vocês querem uma guerra total ou parcial?".Aliás, o Fuhrer, depois de perder algumas eleições, foi eleito e proibiu o voto popular não apenas na Alemanha, mas em todos os países que invadiu.
Pelé foi esculhambado porque disse que o povo não sabe votar.
Fernando Henrique Cardoso, recentemente, na Academia Brasileira de Letras, pediu uma reinvenção da democracia. E o ex-presidente não fez um louvor à ditadura, da qual foi uma de suas vítimas.
A descrença geral na política e a decepção com os eleitos (alguns deles acabam atrás das grades) são um recado para repensar a democracia sem cair na demagogia e na opressão criminosa da ditadura.