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Heloisa Seixas

 

Quando lançou seu primeiro livro, "Pente de Vênus "" Histórias do Amor Assombrado", em 1995, Heloisa Seixas foi saudada com entusiasmo pela crítica. Sérgio Augusto observou que, ao contrário de outras escritoras, ela não procura "ser imitação de Katherine Mansfield e Clarice Lispector, nem tinha medo de Virgínia Woolf". Eu próprio declarei que seu livro era uma das maiores revelações literárias dos últimos anos. Seus contos, realmente assombrados, a colocam "no átrio sombrio da obra de arte".

Heloisa publica agora "O Oitavo Selo", um quase romance, seguindo metaforicamente um dos melhores filmes de Ingmar Bergman.

Ela conta, numa linguagem também assombrosa, um episódio de sua vida real: o tranco com que o destino quase destruiu o seu marido, Ruy Castro. Foi uma série de graves problemas de saúde do companheiro de tantos anos. Infarto, cânceres, convulsões, e um sério deslocamento do ombro direito que fizeram muito sofrer um dos mais consagrados escritores do nosso tempo.

Foi um doloroso desfilar de exames clínicos e internações, inclusive em CTIs (Centros de Terapia Intensiva), que interromperam diversas vezes a redação de "Carmen" um dos sucessos que marcam a trajetória do nosso mais famoso biógrafo (que também biografou Nelson Rodrigues e Garrincha).

Detalhe: Heloisa resgata com bom gosto e precisão o uso do adjetivo inesperado e exato. Não conheço em nossa literatura quem, como ela, amplie o desenvolvimento da ação com o maravilhoso recurso que geralmente cai no clichê ou na obviedade.

Sem exagero, confesso que ao ler "O Oitavo Selo", em matéria de linguagem e técnica literária, pensei em repudiar tudo o que escrevi até hoje. Mas, citando o antológico sermão de frei Francisco do Monte Alverne, "é tarde, é muito tarde".

Folha de S. Paulo (RJ), 14/10/2014