Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Os Brics à espera da Indonésia

Os Brics à espera da Indonésia

 

A política externa brasileira, marcada, hoje, por largo reconhecimento internacional, ressentese, ainda, de uma nítida ausência. Ou seja, a da falta de relações mais intensas com a Indonésia, a nação historicamente mais comprometida com a guinada do Terceiro Mundo, à frente da Guerra Fria, no fim do século passado. Não foi outra a ação fundadora do presidente Sukarno, com a Conferência de Bandung, e, através dela, a fuga às polarizações e às neodependências dos ditos países periféricos. Aproximamo-nos, de saída, pelo reativo equilíbrio das nossas populações, dos 250 milhões de lá aos nossos 202 milhões de brasileiros. A nossa unidade territorial contrapõe-se, por outro lado, à desse país de 17 mil ilhas, numa área estratégica, hoje, do globo, no entremeio entre a Índia e a China.

Desde Bandung, o país deu-se conta da importância desse contrabalanço e, sobretudo, do seu peso imediato na Península de Malaca, em todo o extremo continental asiático. Na expansão das suas políticas educacionais, dispõe do dobro da nossa população universitária. O que se pergunta, hoje, é até quando a Indonésia deixará de reunir-se – na melhor tradição de sua história – aos Brics, e, inclusive, nessa mediação única entre os dois colossos nas suas fronteiras, numa cooperação para o desenvolvimento, multiplicando o atual empenho da assistência econômica, com o novo Banco de Xangai.

Doutra parte ainda, o governo de Jacarta estende a sua influência ao Pacífico Sul, e à força do enlace político e econômico com a Austrália e a Nova Zelândia. Depois de mais de década, a oposição venceu as últimas eleições, passando o poder o atual presidente, de profunda popularidade, ao prefeito de Jacarta, Joko Widodo. Nesse horizonte, ao mesmo tempo, tende-se a manter um reforço das relações com os Estados Unidos, na garantia dos seus mercados petrolíferos. Na perspectiva brasileira, a entrada da Indonésia nos Brics abre uma possível longa manu nessa ação internacional, num quadro possível de confronto, e, sobretudo, nos países africanos, no que é, hoje, a expansão chinesa, a encontrar o vazio do nosso lado do Atlântico.

Sendo a maior nação muçulmana do mundo, marca-se pela maior abertura religiosa, inclusive em contrapontos como o que envolve toda a região de Báli, à força da expansão do credo hindu. Significativamente ainda, a força do credo muçulmano não se envolve de nenhum fundamentalismo, num nítido contraste com o Meio Oriente e a gravidade do risco dos neocalifados e do Isis (a sigla em inglês para Estado Islâmico no Iraque e na Síria).

Não tem, por outro lado, a Indonésia paralelo na continuidade de sua dinâmica econômica, nessa constante de expansão de 5,6% do PNB, no último quinquênio, contida a inflação, freada nos 3%. O VI Fórum Mundial da Aliança das Civilizações, das Nações Unidas, recém-terminado em Báli, justamente, configurou esses novos horizontes e a importância que tem o gigantesco arquipélago no unir-se aos Brics, fugindo a uma globalização que retorne às geografias de meio século. A vir ao seu seio, a Indonésia cumpre um vaticínio que Bandung exprimiu, eliminando, de vez, as marginalizações do velho e obsoleto Terceiro Mundo.

Jornal do Commercio (RJ), 19/09/2014