O velho Vilaça ensinou a muitas gerações no Ginásio de Limoeiro, de que foi fundador, junto ao Padre Nicolau Pimentel, seu amigo. Naquela casa onde me alfabetizei e fiz os cursos chamados à época de primário e ginasial, ensinou-me português, história do Brasil e latim. Se não me preparou inteiramente para o vestibular de direito, ajudou-me em muito com o latim, fundamental no exame. Dois dos seus colegas foram meus examinadores, os mestres José Lourenço de Lima e José Brasileiro Vilanova.
Em 1934 viu se instalar o Ginásio de Limoeiro, com a ajuda do pe. Fernando Passos, pároco, de Gomes Maranhão, prefeito, entre outros.
Nesse Ginásio passou muita gente, de futuros médicos a futuros advogados, a futuros engenheiros, a alguns deputados. O professor Vilaça teve com os seus alunos uma relação muito boa. Contava-lhes anedotas picantes em plena aula e dali retirava temas para a matéria do dia ou lições para a vida. Senhoras mais pudicas tentaram censurá-lo, preocupadas com o que chegava aos ouvidos dos filhos. Uma delas escutou dele uma bela lição de moral. Tornou-se sua amiga e admiradora. O esclarecimento lhe valeu essa relação que o fazia feliz. Contava isso, repetidamente. A censora era a mãe de Maurilio Ferreira Lima, aluno brilhante e, depois, igualmente brilhante deputado federal por Pernambuco. Vilaça gostava muito de Maurilio.
Suas aulas de português centravam-se em "ditados" que corrigia perante todos em plena aula. O "ditado" era de textos de sua autoria e instruía como aplicar termos como sessão, seção, secção, houve, ouve, cêntimos, centésimos, enfim, em fim e por aí vai.
O médico Paulo Loureiro, dizia Vilaça ter sido um estudante insubordinado. Como tantos outros na maturidade tornou-se amigo dedicado. Numa doença séria que atingiu o velho, Paulo Loureiro levava pessoalmente ao seu leito os exames laboratoriais que ele próprio fazia e brincava: "Os exames estão bons. É uma pena. Tinha tanta vontade de lhe dar uma má notícia para me vingar". Gestos afetivos assim testemunhei inúmeras vezes. Meu pai se comprazia com tudo isto. Visitava prazerosamente muitos ex-alunos que viviam na zona norte do Estado, afinal de contas era o celeiro do alunado do Ginásio. O médico José Nivaldo tornou-se especial companheiro para viagens. Era também com quem revezava a direção e se tranquilizava, com o grande profissional ao lado para acalmá-lo das dúvidas com o coração, que lhe pregou susto e risco de morte. Desse enfarte resultou ligação fraterníssima com um não aluno, o cardiologista Paulo Meirelles, um dos mais íntimos amigos. Um confidente. Um conselheiro.
Não devo insistir nessa visão da vida do professor. Ele mesmo gostava de repetir: "O cavaleiro só fala em cavalo/E o vaqueiro só fala no boi/A solteira só fala em casar/E o velho só conta o que foi".
Ele foi, de fato, de fácil convivência. Ademais, um bem humorado. Bom humor ou sabedoria para decretar: os dedos da mão são demais para se contar os amigos na velhice ou na necessidade. Mas ele os teve.
O leitor lembra de Sérgio Bittencourt cantando: "Naquela mesa ele sentava sempre/E me dizia sempre, o que é viver melhor/Naquela mesa ele contava histórias/Que hoje na memória eu guardo e sei de cor"?
Pois eu me lembro sempre. Sempre a recordar o professor Vilaça.