Plínio de Arruda Sampaio deu a toda a América Latina a exemplaridade
do laicato católico, antecipado, inclusive, no seu reconhecimento Pós-Vaticano II. Encarnou a Igreja para o nosso tempo desde o arranco da Ação Católica entre nós, viu livrando-se, tão bem Alceu Amoroso Lima, das tentações integralistas e voltando-se a uma vocação natural de esquerda, independentemente do marxismo.
Foi ao caminho do testemunho, pela absoluta entrega à vida política. Deputado federal, de saída, pelo PDC, somou-se à ação de Franco Montoro. Avançou, de pronto, num compromisso maior com a mudança, vencido o bipartidismo do governo militar. A irredutível liderança programática de Plínio marca-se, então, quando rompe com as vacilações peemedebistas e abre caminho para a criação do PT, junto a Lula. Mas a força-limite da sua mensagem, frente à retórica das ditas "reformas de base", vai, sim, à reforma agrária, sem concessões, trazendo ao Congresso a proposta de radical expropriação do latifúndio. E nessa militância, sem concessões, Plínio, na força da sua maturidade, opta pela mensagem seminal, sai do PT e funda o PSOL.
Não existiria melhor exemplo de visão, a largo prazo, na busca de alternativas para o futuro do País vinculadas à conquista da justiça social, perdida, tantas vezes, na retórica das transigências com o status quo. Plínio, sem nenhuma ilusão, e dentro desse quadro missionário, ofereceu ao eleitorado brasileiro a sua proposta descompromissada, aceitando a candidatura à Presidência pelo PSOL, e a repetiu. Na busca de um novo partido à frente, não tinha ilusões de sucesso, mas de merecer a nitidez da alternativa.
Na grande maturidade dos estadistas, concentrou-se no comando dos institutos realmente vinculados à nossa mudança de estrutura, atento a alguns estereótipos de sua condução. Tais a do cooperativismo ou do sindicalismo comunitário. Plínio inscreve-se, no repertório da política nacional, na extrema fidelidade à exigência da mudança. E soube preservar a utopia de todo idealismo fácil. Trouxe-nos, até a sua morte, a vigília do testemunho e a toma da consciência pela justiça, frente aos êxitos ambíguos de nosso desenvolvimento.