Depois de ter criado o mundo, Deus estava mal informado. Achou tudo "bom": o dia, a noite, as aves no céu, os peixes no mar, o homem na terra. Tentou fazer um copydesk de sua obra, mandando chuva durante 40 dias e 40 noites, mas o dilúvio não melhorou a sua criação. Entre outras besteiras, esqueceu-se de inventar a pedra filosofal, o círculo quadrado e as pílulas de vida do Doutor Ross.
Felizmente, esse tal Doutor Ross, séculos depois, fabricou suas famosas pílulas de vida, melhorando substancialmente a existência do homem mal-acabado pelo Todo Poderoso. Nas farmácias de antigamente, havia um menu bem exposto e iluminado, com as maravilhas curativas de sua produção.
Como em certos restaurantes populares, cada pílula tinha um número. A de número 31 era tiro e queda para frieiras e distúrbios hepáticos. A de número 28 curava erisipela, problemas com o piloro. Havia pílulas contra o câncer, a insônia, a impotência sexual, a incontinência urinária e outros males da espécie humana. Provavelmente feitas pelo Miguel Gustavo, suposto autor de outro jingle famoso: "Melhoral melhoral, é melhor e não faz mal''.
No caso das pílulas do Doutor Ross, o jingle era cantado por um barítono do coro do Teatro Municipal, de voz grossa e solene: "Pílulas de vida do Doutor Ross, fazem bem ao fígado de todos nós". Seguido de um corolário indispensável: "Na prisão de ventre, que é dor atroz, pílulas de vida do Doutor Ross".
Infelizmente, nunca precisei delas. Só tive problemas de fala, trocava letras e troco até hoje. Não consigo dizer "cavalo", digo "tavalo". Meu próprio nome era "Tarlos Heitor Tony". "Fogão" era "fodão".
Sobrevivi.
Espero que surja um novo Doutor Ross, na USP ou na PUC, que faça uma pílula capaz de me livrar da vergonha e da fama de débil mental.