Se o cronista tivesse todos os pecados e defeitos do mundo (estou mais ou menos próximo a tão honrosa posição), eu deixaria para a final o jogo de hoje, entre Brasil e Alemanha. Semana passada, previ uma final entre a Bósnia e Gana. Não deu. Se fosse ganhar a vida como pitonisa ou profeta, estaria morando em Belo Horizonte, embaixo do viaduto que caiu, sem a participação do Zuñiga, o colombiano que derrubou Neymar.
Será talvez a partida mais emocionante desta Copa. A Alemanha afundou navios brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial. Acredito que esta façanha não será acrescida pelo afundamento de nossa seleção.
Apesar de não contar com a aprovação unânime dos torcedores e patriotas provisórios, creio que a Copa não foi a catástrofe anunciada pela mídia e por grande parte do povo, representada por grupos que tentaram cancelá-la. Por sinal, o maior jogador desta Copa (escrevo antes da partida), não foi Neymar, nem Julio Cesar, e muito menos o meu ídolo, Fred.
O grande herói foi justamente o nosso povo que em diversas cidades espalhadas do Sul até o Norte promoveu um espetáculo colorido como qualquer musical da Broadway e do Lido de Paris. Maior do que a visita do papa Francisco, maior do que a chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral em tempos mais remotos.
Criticaram muito a prioridade dada à construção e manutenção de nossos estádios. Não vou gastar tempo nem espaço para acentuar a importância da imagem em termos de comunicação. Cobri para a Folha a Copa da França de 1998. Tirante o estádio Saint-Denis, construído em forma de xícara, e não de prato, como o Maracanã e o Morumbi, os estádios das cidades-sede (Nantes, Marselha etc.) eram lamentáveis.
Sobrevivi ao apocalipse de 1950. Cheguei ao estádio às 9 horas da manhã e fui certamente o último a sair para que ninguém me visse chorando.