O primeiro debate da campanha presidencial levou os candidatos oposicionistas à busca de um não-confronto, na afirmação das sinergias entre o PSDB e o PSB. Depara-se a extrema parcimônia das propostas no que diz respeito ao âmago mesmo de um programa de mudança, frente ao Planalto. Nessa cautela, Aécio pôde, inclusive, assentar-se no esforço de consolidação de sua credibilidade, furtando-se a citar números para a reforma tributária, na ausência de dados financeiros. Declarou não dispor, ainda, de uma régua para a sua avaliação. Campos, por outro lado, descartou qualquer medida de impacto imediato sobre a situação fiscal do país, estendendo-se sobre a visão de uma efetiva reforma tributária, a não se poder completar em menos de oito anos, na sua proposta por setores e níveis cuidadosos de reajuste.
Não espantaria, portanto, que o debate descambasse para questões de só menos, como a ampliação da responsabilidade criminal de menores ou, sobretudo, a discussão sobre as virtudes de se acabar com a reeleição presidencial.
De toda forma, o que resultou do Fórum de Comandatuba é uma nítida falta de confronto relevante oposicionista, por enquanto, frente às grandes linhas da condução do desenvolvimento, tal como evidencia a agenda do Planalto, e às tônicas sobre o controle da inflação, ou à urgência da redistribuição da renda nacional. Mais ainda, ecoa o impacto das decisões de Dilma sobre os aumentos do salário mínimo e do Bolsa Família. A contestação de Aécio vai às diferenças mínimas, no que tange aos novos valores objeto da decisão do Planalto, e ao dito ótimo, na proposta das Nações Unidas. O que falta, ainda, é a linha de corte, na mensagem oposicionista, a permitir que programas nítidos possam ser levados à opinião pública. Na sequência desses debates, o que se viu, ao contrário, foi a regressão da possível nitidez de programas: Eduardo Campos comprometendo-se a retirar do ideário do PSB toda referência ao — caráter nitidamente intervencionista do Estado na ordem econômica. Marcha-se, quiçá, para uma opção liberal-privatista, na expectativa das organizações conservadoras da agricultura, da pecuária, ou dos complexos bancários, que têm sido a ribalta de Aécio e Campos. Repetem-se, sim, as frases, emergentes e frouxas, de "busca de um Brasil mais próspero, mais justo", ou que, efetivamente, "dê mais oportunidade às pessoas". O Fórum de Comandatuba só reforça, por enquanto, a sensação da falta de reais e convincentes alternativas da oposição ao presente rumo da mudança nacional.
Jornal do Commercio(RJ), 9/5/2014