Por um dever de justiça, em minhas aulas de História da Educação, gosto de ressaltar a importância do padre José de Anchieta para a educação brasileira. Cidadão espanhol, natural das Ilhas Canárias, veio para o nosso país, integrando a comitiva do 2º Governador Geral, Duarte da Costa, aos 19 anos de idade, tendo trabalhado intensamente durante 44 anos. Pertencia à Companhia de Jesus, seguindo ao pé da letra o pensamento latino expresso na frase “Às estrelas por caminhos difíceis.” A sua vida não foi nada fácil.
Fundador do Colégio de Piratininga, embrião da cidade de São Paulo, desdobrou-se em outras iniciativas, com o pensamento voltado para a ideia de que deveria existir uma escola ao lado de cada igreja. E nem se preocupou com grandes construções, pois entendia que o bom professor poderia abrigar-se, e aos seus alunos, até mesmo debaixo de árvores frondosas. O importante é que houvesse aprendizagem, considerando os conhecimentos que trouxera da Península Ibérica. Foi reconhecido como “o apóstolo do Brasil”.
Anchieta liderou a catequese dos índios tupiniquins e tamoios, com muito sucesso, não procedendo a crítica de alguns pensadores que, na verdade, ao ensinar os conceitos de disciplina aos indígenas visava tão somente evitar que se rebelassem contra o domínio português. Sua obra foi muito além, para o quê contou com o rápido aprendizado da língua tupi (cerca de seis meses), daí surgindo a sua obra clássica, “Arte da Gramática da Língua mais Usada na Costa do Brasil”. Fundou escolas, cidades e igrejas, inaugurando missões, que eram aulas de catequese, gramática e conhecimentos gerais. Tinha como alunos os índios, os colonos pouquíssimo alfabetizados e os próprios padres.
Em função desse extraordinário trabalho, a Igreja Católica fê-lo beato. O Papa Francisco prepara-se para torná-lo santo, ato de pura justiça. Embora espanhol, tendo vivido tanto tempo em nosso país, será considerado, depois de Frei Galvão, o segundo santo brasileiro, 417 anos depois de sua morte, que ocorreu na cidade de Reritiba, no Espírito Santo.
Deve-se assinalar que ele foi um grande companheiro de jornadas do padre Manoel da Nóbrega, o primeiro dos jesuítas a chegar ao Brasil, na comitiva de Tomé de Souza. Juntos visitaram a aldeia de Iperoig (hoje, Ubatuba, SP), onde foram conter a revolta dos índios tamoios, apoiados pelos franceses com ambições de domínio. Nessa praia, com um cajado, escreveu o célebre “Poema à Virgem Maria”, uma das mais belas expressões da nossa literatura.
Anchieta colaborou também na pacificação dos tamoios, para que fosse fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A ele são atribuídos poderes sobrenaturais, verdadeiros milagres, difíceis de comprovação em virtude do grande tempo decorrido. Mas a homenagem que lhe presta a Igreja é pelo conjunto da obra, em que se assinala o registro de mais de 5 mil histórias de pessoas que alcançaram as mais diversas graças rezando ao beato.
Folha Dirigida(RJ), 24/4/2014