Em viagens de estudos, já estivemos três vezes na Suécia. É claro que também visitamos a importante Academia Sueca, onde são concedidos anualmente os disputados Prêmios Nobel de Literatura. Sempre vimos, naquele país nórdico, de menos de 10 milhões de habitantes, uma extraordinária preocupação com a qualidade da sua educação. Por isso, nos rankings internacionais, a Suécia sempre aparece nos primeiros lugares.
Essas recordações nos vêm à mente a propósito da decisão do governo brasileiro de comprar os 36 caças Gripen NG (new generation), uma das obras-primas da tecnologia sueca. Estarão voando em céus brasileiros dentro de dois ou três anos, mas com uma notável particularidade: a transferência de tecnologia para os nossos especialistas. Nessa negociação ficou resolvido que 80% dos aviões serão produzidos na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que está sendo construída pela Saab, a empresa vencedora.
O seu presidente, Hakan Bushke, de 50 anos, visitou o Brasil e fez uma série de declarações de grande relevo. Uma das quais à revista Veja, de 26/2/14, em que ele afirma que “a educação é chave de tudo. Gostamos de trabalhar em grupo, o que acelera o aparecimento de resultados. Outro aspecto a destacar é que nós aprendemos a gostar de aprender... A Suécia gasta 10% do seu PIB em educação, o índice mais alto do mundo. E estimulamos continuamente a inovação. Na Saab, gastamos 28% do nosso dinheiro em pesquisa.”
Quando lemos tais declarações, recordamos a conversa que mantivemos com o reitor da Universidade Nacional da Suécia. A escola é pública e tem como prioridade formar cientistas, pensadores e professores. É assim que o país pode exportar tecnologia, vender em condições vantajosas os seus produtos, formar parcerias de grande e recíproca utilidade.
Estamos longe dessa mentalidade que, aliás, contagia os demais países escandinavos, entre os quais se destaca da Finlândia. A educação é um objetivo nacional permanente e os seus cuidados são prioritários. A relação professor-aluno, como pudemos ver, não é mais aquela tradicional, envelhecida, do alto para baixo. As aulas são dinâmicas, utilizam na proporção devida os novos instrumentos virtuais, sem excessos. Nada disso deixa em segundo plano a leitura de livros, recomendados permanentemente pelos mestres, inclusive para os momentos de lazer dos seus alunos.
Sentimos essa realidade na visita programada ao Instituto Nacional do Livro, de intensa atividade editorial. O INL prestigia os seus autores, alguns de fama internacional, mas não deixa de buscar produtos notáveis de outros países, inclusive o Brasil. Autores como Ana Maria Machado e Lígia Bojunga circulam com suas obras pelas escolas da Suécia, dada a visão universal dos seus bem elaborados conteúdos. O milagre da competência não é tão complicado assim, dependendo muito mais de uma adequada visão política do que de qualquer outra coisa.
Jornal do Commercio (RJ), 28/2/2014