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O recado de Jango

 

As homenagens de Estado, nestes dias, a Jango, em Brasília, dão conta de uma primeira integração e de um primeiro reconhecimento da história política da nossa modernidade. Muito mais além do averiguar-se um eventual envenenamento do ex-presidente, faz-se, agora, o enlace simbólico do governo Vargas à política do Brasil antiestablishment, consagrado pela vigência do petismo.

Depara-se a perseverança da consciência do Brasil profundo, após o suicídio de Getúlio e o sucesso do desenvolvimentismo de Juscelino. Confronta o oposicionismo atento aos aspectos sempre superestruturais da mudança, na retórica repetitiva do moralismo udenista.

Não se alterou neste meio século, fixando-se sempre no enriquecimento ilícito, impermeável a iniciativas como a do Plano de Metas ou da reorientação no investimento estrangeiro, a fortalecer um neocolonialismo e um reforço da dependência do capitalismo internacional. De igual modo, a reiteração do mesmo protesto acostumou-se a uma tradição de irrelevância, visto o delito quase como congênito a toda chegada ao poder.

Deu-nos o varguismo a primeira redistribuição de rendas pelo salário mínimo e os pilares iniciais da presença do Estado em nossa economia, de Volta Redonda à Vale do Rio Doce. O moralismo continua na tônica do PSDB, como a voz permanente do velho establishment, frente à chegada do PT ao governo. Claro que este sofre do desgaste da permanência inédita no Planalto, pela tentação da captura de benefícios públicos, na usura inevitável da corrupção.

Significativamente, também, e a mostrar a distinção com a impunidade do velho status quo, no mero acumpliciamento do regime com os abusos de poder, aí está o castigo inédito da prisão dos mensaleiros. Experimenta um desafogo do país instalado, consciente, ao mesmo tempo, das marcas da mudança, de vez, iniciadas com Vargas, continuadas no enraizamento do inconsciente político nacional do “povo de Lula” e repetidas com os sucessos eleitorais, a lastrear, agora, um segundo mandato de Dilma. As honras, agora, a Jango fecham o circuito da memória do país “para si”.

Jornal do Commercio (RJ), 22/11/2013

Jornal do Commercio (RJ), 22/11/2013