Muito boa, antológica, a entrevista que o papa Francisco concedeu ao Gerson Camarotti, merecedora de um prêmio especial por vários motivos, pelo entrevistado e pelo entrevistador.
Há 2.000 anos, são raríssimas as entrevistas pessoais com os chefes da Igreja Católica. Não havia veículos de transmissão e, quando surgiram jornais, revistas, rádio e TV, continuaram raríssimas. Para falar a verdade, só me lembro de três.
Viajei com João Paulo 2º duas vezes. Bati papo com ele, mas não foi uma entrevista. Ele contou que havia aprendido a dizer em português "aquele abraço". Perguntou se colava mal repetir a saudação em seus pronunciamentos oficiais. Não me deu conselho algum, mas o pediu a um pecador, agnóstico profissional.
Papa Francisco respondeu com sinceridade e coragem a todas as perguntas do Gerson. Na edição da entrevista, houve inserções dos seus pronunciamentos públicos, inclusive o que me pareceu mais veemente, quando exigiu que os jovens continuassem a protestar em todo o mundo contra uma sociedade injusta e violenta. Chegou a dizer, em público e na entrevista pessoal, que o jovem calado não é do seu agrado.
Reconheceu os pecados da igreja, ele próprio se admitiu pecador. Não será fácil reformar a Cúria Romana, poderá até se tornar trágico já houve precedentes ao longo da história.
A sua primeira visita internacional foi mais do que um sucesso. Ele chegou a pedir desculpa ao prefeito do Rio pela "bagunça" que provocou na cidade. A culpa não foi dele, mas das autoridades locais, que se mostraram incompetentes para enfrentar um evento de nível mundial.
A palavra que Francisco mais falou na entrevista foi "proximidade". A mãe que segura o filho no colo e fala com ele no peito, e não por meio de cartas e homilias. Valeu.
Folha de S. Paulo (RJ), 30/8/2013