A revelação de documentos secretos do governo dos Estados Unidos sobre a política da América Latina continua provocando injustificáveis preocupações.
Mencionei, nesta coluna, o telegrama da CIA sobre uma visita que Juscelino Kubitschek fez, no dia 29 de março de 1964, ao general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra de Jango, que seria deposto dois dias depois. O general internara-se num hospital com uma crise renal, nem ele nem JK estavam envolvidos nas manobras que resultaram no golpe daquele ano.
Luthero Vargas, filho do presidente, escreveu o livro "Getúlio Vargas - A Revolução Inacabada" (Bloch, 1988), narrando episódios domésticos do Palácio do Catete, inclusive o mais importante de todos. Após o atentado da rua Toneleros, em 1954, a CIA praticamente invadiu o Rio de Janeiro, rastreando qualquer indício que colocasse Vargas fora do poder.
Oficiais da Aeronáutica, monitorados por elementos da CIA, blindaram o Catete com a tecnologia da época, que já incluía equipamentos ainda fora do mercado.
O mesmo fora feito na Guatemala, também naquele ano, quando o coronel Carlos Castilho Armas, agente ostensivo da CIA, promoveu o golpe que depôs o presidente Jacobo Arbenz Guzmán, que havia desapropriado as principais companhias norte-americanas que exploravam as bananeiras daquele país.
Voltando a Vargas: os jornais noticiaram que Maneco, um de seus filhos, era sócio de Gregório Fortunato num campo gaúcho. Vargas chamou o filho. Numa varanda interna do palácio, e sem a presença de ninguém, perguntou a ele se era verdade. Maneco confirmou.
Naquele momento (imediatamente comunicado a Washington), o pai abaixou a cabeça e se afastou do filho. Segundo Luthero, a partir de então Vargas não mais lutou nem pelo governo nem pela vida.
Folha de S. Paulo (RJ), 16/7/2013