Acontece em tudo e com todos: o tempo das vacas gordas e magras, que os entendidos chamam de entressafra.
No futebol e na política, atravessamos um período de vacas magríssimas. No último domingo, ganhamos da França, mas, com a Copa batendo em nossa porta, a paisagem é desoladora: não temos grandes craques.
Jogamos quase tudo em cima de Neymar, que ainda não estreou internacionalmente, apesar de sua ida para o Barcelona, onde vai aju-dar a glória de um argentino. Em 2010, na África do Sul, jogamos nossas fichas em Robinho: não deu nem para a saída.
Estamos longe daqueles tempos em que podíamos formar duas seleções brilhantes. Chegamos ao luxo, na era do Flávio Costa e da diagonal, de ter um time para jogar no Rio e outro para jogar em São Paulo. Em 1970, naquele estilo que lhe era próprio, João Saldanha não perdeu uma noite de sono para convocar as 22 feras que nos trouxeram o tricampeonato. A messe era tão farta que até um presidente da República se meteu na história, exigindo a convocação de Dario.
E as feras eram tais e tantas que no Chile, em 1962, com Pelé fora do jogo, tivemos um Garrincha que se superou em campo, trazendo-nos o bicampeonato.
Bons tempos em que tínhamos o homem de Pau Grande para substituir Joel, e um Gerson para substituir Didi. Onde estão todos eles? Como naquele poema de Manuel Bandeira, estão todos dormindo, profundamente?
Com Telê, na Copa da Espanha, formamos um time que foi considerado o melhor de nossa história. Não ganhamos por causa de um italiano medíocre, um tal de Rossi, que não era de nada, mas fez três gols em cima da gente. A antológica jogada de Falcão que empataria a partida no 2 a 2 serviu para provar que ainda éramos melhores.
Folha de S. Paulo (RJ), 11/6/2013