Se houvesse dúvida sobre a popularidade de JK seria logo dissipada pelo lançamento do livro “Memórias de um Sobrevivente”, em Belo Horizonte, na tradicional e conceituada Academia Mineira de Letras. As perguntas dos repórteres e acadêmicos versaram sempre sobre as relações de amizade do ex-presidente com Adolpho Bloch. Eles se consideravam “irmãos”, com um convívio verdadeiramente fraternal, sobretudo depois da cassação.
Não havia interesse material. Apenas gratidão do proprietário da Manchete pelo homem de grandes realizações, como a construção de Brasília e a instalação das indústrias naval e automobilística. Cinquenta anos em cinco não foi apenas uma legenda criada pelo poeta Augusto Frederico Schmith. Traduziu-se numa revolução social, muitos empregos, a colocação do Brasil em posição honrosa no concerto internacional.
Adolpho acreditou na audácia de JK e, ele mesmo também corajoso, jogou todas as fichas da sua empresa na campanha favorável à nova Capital. O seu maior concorrente, a revista O Cruzeiro, atirou-se em sentido contrário. Perdeu a parada e muitos dos seus leitores. A Manchete passou a vender mais, chegou a incríveis 350 mil exemplares semanais, porque traduziu de forma competente um anseio de progresso do povo brasileiro.
Quando JK foi cassado, a Manchete deu-lhe cobertura permanente. Fez sucesso especialmente em Minas Gerais, cuja população tem na sua formação o doce gosto da gratidão, da liberdade e do patriotismo. É o que chamamos de sabor mineiro, todo ele reconhecido ao gigantesco trabalho do filho ilustre de Diamantina.
A cerimônia na sede da AML, em Belo Horizonte, não foi só isso. Repórteres como sempre ansiosos e todos jovens queriam conhecer mais sobre as Empresas Bloch e os 48 anos de Manchete. Uma delas fez uma boa pergunta: “Com a inclusão digital, a Manchete estaria preparada para os novos tempos?” Respondi que sim, pois ela foi das primeiras a abandonar a calorenta linotipo, trocando pela fotocomposição. E, na TV, montou todo o seu equipamento de forma digital, não chegando a utilizar as pesadas e ultrapassadas máquinas analógicas.
No caso da televisão, pretendeu-se uma TV classe A. Sem levar na devida conta o predomínio da classe C. Não podia dar certo, embora tivessem ficado na memória dos telespectadores notáveis performances, como a qualidade do jornalismo (coberturas memoráveis do Carnaval), além de exemplares telenovelas, com ritmo original, como “O Pantanal” e “Dona Beija”, esta interpretada de forma admirável por Maitê Proença.
Então, por que a derrocada? Falta de administração profissionalizada e dívidas bancárias insanáveis. Ficou um desemprego para 5.000 pessoas e a saudade da marca que fez história, na comunicação brasileira.
Folha Dirigida (RJ), 16/5/2013