A última reunião da Aliança das Civilizações, das Nações Unidas, em Viena, salientou a importância da política internacional do Brasil, inclusive num confronto com as demais nações do grupo dos BRICS, que alteraram, de vez, os caminhos da globalização hegemônica, como ainda prevista há uma década. O país teria, numa distinção nítida com a Índia, China, Rússia e África do Sul, componentes únicas neste protagonismo externo, que ainda mal desponta. E, de saída, pelo quadro intercontinental em que avança, no reconhecimento de sua presença crescente no mundo africano. Sai-se, de vez, neste quadro prospectivo, da moldura latinoamericana, e, sobretudo, quando amarrado ao velho e gasto contraste entre centro e periferia, no contraponto com os Estados Unidos. Avança nossa presença em Angola e Moçambique, assim como, em bem de todo o continente, pelo contributo financeiro do Brasil para uma legítima lítica de desenvolvimento, fora dos antigos assistencialismos do último meio século. O País superou a sua moldura geográfica clássica e, por sobre qualquer velha política de blocos, enfrenta hoje uma ação diversa e plural com os países fronteiriços. Defronta as políticas de crescente assistencialismo com o Paraguai e a Bolívia, nas transferências de recursos naturais, como no caso dos nossos direitos ao potencial energético das Sete Quedas, ou das trocas petrolíferas e de gás natural com o governo de La Paz.
É inevitável, por outro lado, o nosso destaque diante dos próprios BRICS, e da convergência única, nossa, entre as componentes econômicas, sociais e, sobretudo, políticas da mudança. O que avulta, aí, é a constância deste nosso aperfeiçoamento democrático, em que se combinam as cláusulas da limitação, a prazo, dos mandatos presidenciais; o voto secreto e obrigatório; a prática única de controle interpoderes do Conselho Nacional de Justiça e o avanço do reconhecimento dos direitos humanos em institutos pioneiros da Carta Cidadã, de
1988, como o habeas data e o direito de resposta à informação mediática.
Pesa, ainda, neste reforço na nossa imagem internacional, a política de liberação de fronteiras às migrações de áreas radicalmente destituídas, como o Haiti. Não sem razão, cresceu já a voz da Presidenta em conflitos latentes, entendidos como apanágio dos países desenvolvidos do Ocidente, como no reclamo da visão realmente bilateral do risco de conflito atômico entre Irã e Israel, ou a preocupação com o resíduo colonial na atitude francesa face ao terrorismo no Mali, ou a retração do Estado Democrático na Líbia pós-Kadafi, deixada no regaço da assistência das Nações Unidas. Mas avulta, ainda, o nosso contraste continental, diante de constituições claramente atentatórias ao Estado de Direito nos países vizinhos, como no que diz respeito à perene reeleição da presidência venezuelana, ou a clara subordinação, na Carta Magna do Paraguai, do Executivo às leis congressuais. Mas, sobretudo, é dentro também de uma nova consciência da sua individualidade internacional que o Brasil pode descartar-se dos reconhecimentos febris das últimas vintenas, qual o do nosso acesso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nosso peso histórico, ao lado da Índia ou da África do Sul, independe, cada vez mais, das reconfigurações dos pós-guerras, ou dos efeitos ainda latentes das velhas dominações coloniais.
Jornal do Commercio (RJ), 5/4/2013