Apesar da idade, que é provecta, mas não necessariamente sábia, ainda não me decidi se sou presidencialista ou parlamentarista na questão de regime de governo. Aliás, e para ser sincero, não somente nessa questão, mas em quase todas as outras continuo sem saber se sou isso ou aquilo e não perco o sono nem o rebolado por causa disso.
Este preâmbulo não é para falar mal de dona Dilma, apenas para registrar que não compreendo como ela tem disposição para estar em tantos lugares e circunstâncias diversas e até contraditórias.
Devem ser os ossos do ofício que a obrigam a estar em Roma para cumprimentar o novo papa, em Petrópolis para a missa em homenagem às vítimas da enchente, não sei onde para a reunião com os Brics. Não acompanho a agenda miúda de suas ocupações oficiais e pessoais, mas é fantástica a ubiquidade com que ela se movimenta "urbi et orbi" para lembrar a sua presença no Vaticano, onde compareceu com uma comitiva que se marcou pelas despesas e pela cafonice.
Como todo mundo sabe, sua prioridade é a sucessão de si mesma, aliás, o universo político só pensa nisso, o resto é a rotina dos atos e fatos oficiais, distribuídos em 39 ministérios e bilhões de entrevistas e declarações óbvias de pesar ou júbilo conforme as circunstâncias.
Não se trata de uma rainha da Inglaterra, mas antes fosse. Teria tempo para cumprir a agenda protocolar, consolar os aflitos e criticar os corruptos. Presidente e presidencialista de carteirinha, ela se obriga a desempenhar as duas funções da maneira como pode e louvo sua saúde e disposição.
Mas vejo que o PAC parece que acabou, a inflação continua ameaçando e uma grande obra, como a transposição do São Francisco, ficou como as Guerras Púnicas: um verbete do passado.
Folha de S. Paulo (RJ), 31/3/2013