Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Os percalços da nova globalização

Os percalços da nova globalização

 

Quem são, de fato, e agora, partindo das perplexidades da crise financeira, os verdadeiros parceiros da nova globalização, fora das certezas de uma hegemonia ocidental de, ainda, uma década? Aí está a crescente fragilidade europeia, senão, já, a da impensável fratura, como nos mostra a possível independência da Catalunha, na Península Ibérica. Não há mais a repetir, por outro lado, o peso da assistência internacional à Grécia e, agora, a Portugal, a disparar um coeficiente quase irreversível de desemprego. Arrefece-se, também, a antiga gula dos países centro-europeus e eslavos, de se integrarem na Comunidade Econômica Europeia, desenhada pelos grandes visionários de após a II Guerra Mundial. As novas descobertas petrolíferas do Atlântico Norte tornam cauteloso qualquer ingresso escandinavo e reforçam a crescente retração de Londres, a desanimar as expectativas remanescentes de Paris e Berlim.

A ida de Obama ao coração do Sudeste Asiático salienta, por outro lado, este empenho prioritário em dissociar a área do grande complexo chinês. Mas está-se longe, ainda, da formação de um bloco na região, na convergência entre o Vietnã, o Laos e o Camboja, de um lado, e, na outra ponta do grande Golfo, entre Malásia, Cingapura e Indonésia. E só se reforça, com a posição arbitrai de Mianmar e Bangkok, nas apostas do dito "mundo ocidental", despertados pela "Primavera Árabe", e os equívocos dos sucessos democráticos. Reduz-se, também, sobremodo, a transformação dos BRICs em um bloco comum, no paralelismo da expansão hindu e chinesa, muito mais do que de sua complementaridade, voltadas as nações-gigante para o seu mercado interno. Tal não exclui, de toda forma, a sua convergência para um novo mercado de capitais, nascido de uma economia de desenvolvimento, o que parece suscetível na macrorregião. Mas, de toda forma, não há de esperar-se mais do que um bilateralismo dos BRICs, tal como, por exemplo, na nova dinâmica de relações entre a China e o Brasil.

Amplia-se a expectativa de uma estabilização universal, no reduzir-se a marginalização coletiva, mais que minorar-se a agressividade das concentrações econômicas. Após a derrubada de Bin Laden, aí está, na África, esta associação do terrorismo à mobilização direta da anomia social, com finalidades estritamente disruptivas, e não de contestação cultural. A prontidão com que as forças militares francesas vêm de se por à disposição do governo do Mali, contra os ditos "revolucionários", irrompidos das suas regiões quase desérticas, mostra a clara distinção destes surtos das efetivas "guerras civis", como a da Síria, no Oriente Médio.

O impacto do desfecho de Chávez, na Venezuela, se reforça ao extremo o dinamismo cívico nacional, não deixa dúvidas quanto à fragilização da entente bolivariana. E encontra campo a nova política de abertura americana com o México, e o apoio dado ao governo de Bogotá para um alinhamento às novas prioridades realmente globais de combate ao comércio de drogas, e ao risco de solapamento à vida social dos nossos dias. De toda forma, parece virada, de todo, no governo Obama, a página das "alianças para o progresso", ou dos blocos em que o velho imperialismo vivia de um predomínio ainda mais presumido do que imposto.

Jornal do Commercio (RJ), 8/2/2013