Para mim, o nome Lincoln designava um automóvel luxuoso, era o top da linha Ford, rivalizava com o Cadillac, da General Motors. Era também marca de cigarro, que durante anos fumei, cujo slogan era "De ponta a ponta o melhor". Nunca tive muita simpatia pelos grandes vultos da história, ao contrário de Shakespeare, que desprezava o homem comum, só se importando com personagens fora de série (no bem ou no mal). É justamente do homem comum que gosto e me divirto.
Lincoln vem aí em mais um filme dedicado a ele, mas não é do antigo lenhador (e muito menos de seu filme) que pretendo falar. No famoso memorial, em Washington, uma das atrações da capital norte-americana, o estadista que acabou com a escravidão nos Estados Unidos está sentado num trono de mármore, uma de suas mãos fica apoiada num "fascio", um feixe de varas finas, facílimas de quebrar. Juntas, enlaçadas umas nas outras, formam um dos símbolos mais antigos da união, uma condenação do individualismo e uma apoteose da massa.
Foi um símbolo poderoso do Império Romano. Séculos depois, além de símbolo, tornou-se uma doutrina que teve hora e vez durante o regime que ressuscitou o nome e a função do "fascio".
Não estou comparando Lincoln a Mussolini nem a "Carta del Lavoro" do fascismo italiano com a 13ª Emenda que libertou os escravos e acabou com a Guerra da Secessão, que matou mais americanos do que a Segunda Guerra Mundial. Fico impressionado com os símbolos em si, que podem ser interpretados (e venerados) de várias maneiras. A cruz, por exemplo, representa uma fé e, ao mesmo tempo, a morte. Do mesmo modo que uma pequenina estrela antes de um nome significa um nascimento. Só não sei ainda o que um leão representa nos filmes da Metro Goldwyn Mayer.
Folha de S. Paulo, 22/1/2013