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O pugilato de ideias

 

O personagem mais simpático de Machado de Assis, na minha opinião, é Quincas Borba, não o homem, mas o cão que tem o mesmo nome do antigo dono. Justamente porque nada fala, mas pensa, e pensa muito. O espanhol que toma conta dele, quando está com raiva, chama-o de "perro del infierno", mas o cão nem dá bola para a ofensa. De tanto pensar sobre o mundo, Quincas Borba descobriu que a vida é "uma poeira de ideias".

Nunca leu Platão nem Schopenhauer, mas, observando os homens, verificou que toda a humana lida não passa de uma poeira de ideias que, muitas vezes, chega ao pugilato, talvez porque, segundo um autor (Shakespeare) que ele também não leu, os homens são homens, "men are men".

Na semana que passou, apesar da muita chuva que caiu aqui pela Baixada Fluminense, tentei fazer uma ideia de tudo, mas fui obrigado a concordar com Quincas Borba: muita poeira e nenhuma ideia. Vi o pessoal do Ministério de Minas e Energia, que produziu, entre outras maravilhas, a maravilha que é a atual presidente do Brasil, explicar os apagões e garantir que tudo está bem, o que não deixa de ser uma poeira que cobre a nossa realidade.

Poeira também, de uma outra ideia em curso, é a intenção de colocar Lula na turma do mensalão, por conta do domínio do fato que, afinal, é um tipo de poeira que complica a já complicada paisagem nacional. Tudo é possível, dizia o autor de "Quincas Borba". Há também uma ideia generalizada de que as obras prometidas para a Copa do Mundo e a Olimpíada estão atrasadíssimas e bota poeira nisso, o remédio é esperar que a poeira comece a descer e apareça alguma coisa.

Bem verdade que a mídia, a impressa e a eletrônica, aprecia a poeira, dando mais importância ao pó do que à ideia em si.

Folha de S. Paulo (RJ), 13/1/2013