O horror de Newtown parece ter chegadoao clímax da tolerância com a violênciaindiscriminada, lavrada noseio da mais rica nação do mundo.Repetiram-se os cenários de Columbine, Wiscosine Arkansas, a fazer das escolas infantis o alvodos repentes do agressor anônimo e delirantementedeterminado. Mais que, ainda, à revulsão, o que vimos foi a entrada de todo o país nomais fundo de sua religiosidade, entre a oração e a busca do consolo, e não há precedentes —acredita-se — do desfile das religiões e suas mensagens na cerimônia de adeus. Não faltaram, sequer, os Bahá'ís e liturgias onde avultavao comando dos luteranos, ao lado da nítida presençados católicos. Teor, por inteiro, ecumênico, o desse encontro da fé, e rematada pelo governadorde Connecticut, a preceder o chefe da Nação.
A profundidade do condoimento de Obama não o afastou, em nenhum instante, da assunção da responsabilidade presidencial. Assistimosà declaração de um estado nacional dealerta na provisão dos serviços médicos imediatos, da relocação dos postos de saúde no paísou das rondas de segurança. Foi-se às catadupasde novas medidas e, sobretudo, das novas interligações para prevenção de catástrofes, como a de Newtown, mas Obama deteve-se, dianteda grande interrogação mundial.
Servirá acatástrofe de Connecticut para, de vez, reformar-se o porte de armas, franqueado a todo cidadão,no entendimento da constituição americana?
O arsenal inaudito de revólveres e fuzis, de parcom balas e minigranadas do assassino, mostrao quanto o engenho mortal está no âmbito dacultura de consumo do país. Obama evitou cuidadosamenteo tema durante a campanha eleitoral. Mas estes meses, agora, vitais para o assentoda credibilidade do segundo mandato,não vão permitir-lhe a fuga ao enfrentamento. E ele irá, infelizmente, a um racha nacional, como silêncio ora mantido pelos republicanos. Ninguém duvidou das lágrimas repetidas do presidente. Ao declinar o nome de cada vítima de Newtown, o presidente fez refém a populaçãodo país, de um olhar de cobrança, sem volta, das vítimas de Newtown.
O Globo, 24/12/2012