Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Amor de perdição

Amor de perdição

 

Amor de Perdição foi livro que li na juventude e que ficou para sempre. Festejamos os 150 anos da primeira edição e o livro está canonizado.

Camilo Castelo Branco, o autor, ao prefaciar, em 1879, a sua 5ª edição sugeriu que aquela tiragem levaria mais de um século a esgotar-se. Ledo engano/Os amores de Simão Botelho e Teresa Albuquerque não seriam esquecidos e o sesquicentenário assinalado no século XXI.

E mais: a cidade do Porto, como se não bastassem todas as comemorações no âmbito universitário e jornalístico, denominou de Largo do Amor de Perdição, a pracinha fronteira à Cadeia de Relação, onde Camilo esteve preso com Ana Plácido, e onde escreveu ao que tudo indica em apenas 15 dias, a história daqueles amores contrariados, história que mereceu muitas edições, aqui e lá.

Anuncia-se que é a primeira vez que a cidade concede a um romance a honra de figurar na toponímia urbana.

O ensaísta e camilianista Abel Baptista crê que o próprio autor criou o clima de protagonismo desse livro no conjunto de sua obra. O prefácio, a que aludi, seria o fato exponencial da suposta preferência de Camilo. Abel Baptista lembra ainda que Camilo caracterizou o sucesso editorial de Amor de Perdição como um "êxito fenomenal e extralusitano", tendo características do que hoje falaríamos em verdadeiro best-seller.

A lenda gerada ao redor do romance conta com certo paralelismo entre os personagens e os amores que levaram ao cárcere Camilo e Ana Plácido.

Não é de esquecer que no livro aponta também a veia cômica do seu autor, a sua inegável criatividade.

O romancista Mario Cláudio vê nos personagens de Camilo um certo estereótipo, de conteúdo relativamente pobre em contraste com os de Eça - o seu preferido. Ele diz, em Camilo "a mulher fatal é sempre muito fatal, o amoroso é muito amoroso, o brasileiro de torna-viagem é sempre burro, perverso e feio".

Ninguém pode é negar o ritmo vertiginoso de Camilo e seu grande conhecimento de técnica novelística. A triangularidade amorosa Simão, Teresa e Mariana é muito bem urdida. 

Em São Miguel de Seide, na Casa de Camilo, as festividades na louvação a Amor de Perdição foram muito intensas. E o livro merece.

Jornal do Commercio (RJ), 3/12/2012