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Deus seja louvado

 

Querem tirar das cédulas do nosso real a breve citação carregada de ironia machadiana: "Deus seja louvado". O argumento é pífio: o Brasil é um Estado laico, qualquer alusão a divindade é uma afronta, o país tem diversas religiões e, inclusive, tem razoável porcentagem de ateus ou agnósticos de carteirinha, entre os quais o cronista se inclui, apesar de sua formação ter sido feita com valores de determinado credo.

Os Estados Unidos não cultivam uma religião oficial, mas nas cédulas de um dólar, com a cara de Washington, há a frase "In God we trust". Há também na mesma cédula um símbolo maçônico: a pirâmide interrompida, tendo em cima o olho que em muitas religiões representa o olhar de Deus. Que também comparece nas caixas de fósforos, simbolizando o "Fiat lux".

O hino oficial inglês também invoca Deus: "God Save the Queen" ou King. E voltando aos Estados Unidos, o "God Bless America", de Irving Berlin, funciona como hino alternativo, mais ou menos como "Aquarela do Brasil".

Poderia citar outras invocações oficiais ou oficiosas da divindade. Barack Obama, que me parece meio muçulmano, em breve prestará seu juramento para o segundo mandato com a mão em cima da Bíblia base do judaísmo e do cristianismo.

A invocação na cédula do real não discrimina nem faz apologia de qualquer religião. Até mesmo os cultos afro-brasileiros têm seus orixás e nossos índios invocam Tupã.

O Império brasileiro tinha uma religião oficial que foi abolida com o advento da República. A bandeira que consagrou o novo regime tem até hoje a influência do positivismo, que para muitos de seus adeptos funciona como religião. O dístico ("Ordem e Progresso") é redução do lema fundamental de Auguste Comte.

Folha de S. Paulo, 18/11/2012