Doze segundos. Não demorou mais do que isso, no dia 10 de novembro de 2012, a implosão do edifício de sete andares em que funcionou o complexo Bloch de empresas gráficas e jornalísticas. Triste fim de um incrível império montado especialmente pela competência e intuição do brasileiro nascido na Ucrânia, Adolpho Bloch.
Naquele local exerci atividades durante cerca de 15 anos, antes de ir para o monumental prédio da rua do Russell (projeto de Oscar Niemeyer). Tenho muitas lembranças desse período, a começar pela redação improvisada da Manchete Esportiva, quando trabalhei com a família Rodrigues (Augusto, Paulo e Nelson). Depois, os dois anos de direção da revista Sétimo Céu, quando criei as primeiras fotonovelas brasileiras e elevei a circulação para perto de 200 mil exemplares.
O prédio, que agora virou sete toneladas de entulhos, traz gratas recordações. Como a entrevista que fiz com o então jovem compositor Tom Jobim, numa sala apertada do segundo andar. Houve também as visitas recebidas no sétimo andar, onde os almoços ficaram famosos, a ponto de a empresa passar a ser conhecida como “um grande restaurante que editava revistas.”
Para se chegar ao andar das redações ou mesmo ao restaurante, era preciso passar por um amplo galpão em que ficavam as modernas máquinas de offset e a rotativa Webendorf, que rodava as revistas coloridas, uma novidade para a época. O primeiro impacto do visitante era com as offsets alemãs, que imprimiam de duas em duas cores, embalagens como as da gillette e as da cachaça praianinha. Surgia sempre o comentário infalível: “Como se bebe nessa terra”, pois as tiragens em geral eram de 20 milhões de unidades.
Quando chegamos para trabalhar naquelas instalações, no ano de 1955, havia uma inscrição no alto do prédio: “B.Bloch & Irmãos”. Durou assim muito tempo. Um dia, numa viagem feita a Buenos Aires, com Albert Sabin, perguntei ao Adolpho o que isso significava. Ele desfiou uma enorme mágoa que guardava dos irmãos mais velhos, Bóris e Arnaldo: “Fizemos a firma, mas eles não confiavam em mim. Diziam que eu era viciado em cassinos. Não colocaram o meu nome. Hoje, mandei trocar tudo porque só Deus sabe o duro que dei para transformar aquilo numa grande empresa.” Disse isso, num restaurante de Buenos Aires, com lágrimas que teimavam em cair dos seus olhos azuis.
No Rio, havia o convencimento de que Adolpho era um mago. Ele fazia o controle de qualidade dos seus produtos pessoalmente. Puxava uma folha impressa, ao acaso, e descobria defeitos de impressão inadmissíveis. Dava broncas colossais nos operários, que conheciam a frase do velho, sempre repetida: “Com a qualidade gráfica não se brinca.”
Foi lá que nasceu a revista Manchete, em 1952, sob a direção do cronista Henrique Pongetti, sucedido respectivamente por Hélio Fernandes, Otto Lara Rezende, Nahum Sirotsky e Justino Martins. Até que veio a transferência para o Russell, em 1970, quando então a empresa conheceu os seus dias mais gloriosos. Frei Caneca nº 511 foi um marco.
Adeus, Frei Caneca 511
Jornal do Commercio (RJ), 16/11/2012