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O dilúvio da corrupção

 

Teremos hoje, pelo menos assim está programado, o segundo tempo do complicado debate no Supremo Tribunal Federal, cujo placar é de 3 x 1 pela condenação da maioria dos réus da chamada ação penal 470, também conhecida como mensalão. Além do prognóstico que cada um faça sobre o resultado final, acredito que duas conclusões podem ser tiradas desde agora.

Primeira: a falência da democracia dita "representativa". Operada pelo voto direto e livre, fiscalizada por um tribunal específico e pela opinião pública e publicada, ela cria condições em vários níveis e modos para a corrupção da qual, a política em si mesma não está livre. Ao contrário: pelos indícios, com ou sem provas, o homem comum ficou sabendo (se é que ainda não sabia) que o processo adotado universalmente (com exceção das ditaduras) facilita e até estimula a prática de atos ilícitos ou criminosos.

Na velha república, a corrupção era risonha e franca com as eleições a bico de pena, roubo de urnas, currais dominados por coronéis à paisana ou fardados. A corrupção era a mesma, talvez pior.

Segunda: surgido da resistência à ditadura de 1964, o Partido dos Trabalhadores firmou-se como uma vanguarda da democracia, da moralidade e da justiça social. O mensalão, qualquer que seja o resultado final da ação penal 470, escancarou suas entranhas de forma irreversível. Entre os principais réus do processo em curso no STF, figuram dois resistentes à ditadura que chegaram a colocar a vida e a liberdade pessoal contra a truculência do regime militar. E agora, Josés, Dirceu e Genoino?

Fica em aberto a culpa da cúpula do governo anterior, governo licitamente conquistado pelo PT. No dilúvio da corrupção, a arca de Noé está fazendo água.

Folha de S. Paulo, 9/10/2012