Atendi a uma repórter que fazia uma reportagem sobre horóscopo e ela, de saída, foi me dizendo: "O senhor, conhecido consultador de horóscopos...". Interrompi: "Minha filha, você está com a informação errada, eu não consulto horóscopos...". "Mas o senhor não usa marrom nem gosta de jacaré empalhado..." "Isso é outra coisa", retruquei, "meu jacaré nada tem a ver com astrologia." E ela, simpaticamente, terminou a conversa: "Vai ver que tem".
O ensino de astrologia, na Sorbonne, só foi abolido no século 17, quando Colbert, cruzado do cientificismo e do racionalismo, fechou aquela cátedra. Mas isso não impediu que grandes nomes da França, ao longo da história, nela continuassem acreditando, como Talleyrand, Victor Hugo, Madame de Staël, Flaubert e, agora, para mostrar que não foi só no passado, Mitterrand e De Gaulle. É o que nos revela o livro de Elizabeth Teissier, contando ter sido astróloga influente de Mitterrand.
Essa revelação incentivou o general Maurice Vasset, 85, herói da Segunda Guerra, a confessar que também foi astrólogo de De Gaulle, divulgando um bilhete deste que afirma: "Vasset, você é um bom soldado e um bom astrólogo". Vasset disse, também, que advertiu De Gaulle sobre os acontecimentos de março de 68 e recomendou que o general não convocasse nenhum referendo. De Gaulle enfrentou os astros e caiu. Napoleão também tinha seu astrólogo, que previu seu futuro desde cedo.
Não sei até onde eles, cartomantes, videntes e profetas, se relacionam. Mas é difícil não descobrir num líder político algum espaço ao irracional, às razões do imprevisível, ao acaso, ao mistério.
A primeira informação escrita sobre a influência dos videntes no poder está no Gênesis, quando se relata a história de José, que decifrou o sonho das vacas gordas e magras, influenciou o faraó e mudou a história do povo judeu. Nostradamus, até hoje, nos aterroriza, depois de dominar Catarina de Médicis. Júlio César não ouviu os temores de Calpúrnia e enfrentou os idos de março que, na versão de Shakeaspeare, tinham chegado, mas não acabado.
No Brasil, temos nossos videntes. O bom Israel Pinheiro gostava de ouvi-los e levava a Juscelino as mensagens que recebia. Magalhães Pinto, meu querido amigo, foi cliente de dona Maria do Correio, famosa cartomante de Araxá, e dizia Otto Lara que fora ela que o levara a liderar a Revolução de 64. Tudo uma trinca de ases. Magalhães quis saber sobre a situação nacional, dona Maria colocou as cartas. Saiu um ás de copas. Tirou outra, um ás de ouro; tirou a terceira, um ás de espadas! Ela concluiu: "Exército, Marinha e Aeronáutica". Magalhães vislumbrou a revolução e saiu na frente.
A mais célebre previsão de astrologia política do século foi a do francês André Barbault. Previu a morte de Stálin em 1953 e o desmoronamento da Rússia em 1989, dizendo ser sua profecia uma interpretação da conjunção Saturno-Netuno. E sentenciou: "Jamais abandonarei a astrologia política".
Hoje, ela não acabou. Mudou de nome. Chama-se pesquisa de opinião pública. Quando baixa, é o inferno astral.
Getúlio Bittencourt, grande jornalista e astrólogo, quando eu era presidente, fez o meu mapa astral. Eu não soube ver nem interpretar. Tudo um mistério.
Diário do Amapá, 23/7/2012