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Mediocridade nacional

 

Duas casas, uma em Brasília, outra em Goiás, dois partidos que pretendem se revezar no poder, um bicheiro com a esquisita alcunha de "Cachoeira" -e temos aí a agenda da vida pública nacional, que se ramifica no Judiciário, na Polícia Federal e, logicamente, na mídia que dedica espaço e tempo às gravações, aos depoimentos agora chamados de "oitivas", às suposições e chantagens mútuas dos principais interessados.

Uma pauta que não deixa de ser interessante, mas que escancara em seus escabrosos detalhes a mediocridade dos tempos que vivemos, embora o Brasil, com raríssimas exceções e ao longo de seus 500 e tantos anos de existência, tenha insistido em produzir uma história menor, quase lamentável, em alguns casos vergonhosa.

Vergonhosa e lamentável porque, apesar dos episódios que estão abastecendo a gula da televisão, de jornais e revistas, tudo termina em nada -ou em quase nada, o que é pior. Ficamos sabendo que os escândalos se repetem, são previsíveis como a rota dos cometas, mas terminam (quando terminam) como os casos do mensalão, dos anões do Orçamento que incluiu alguns anões honorários, além de muitos outros que fluem e refluem como as marés, também previsíveis como os cometas.

Saindo da atualidade. Tivemos incontáveis golpes de Estado, regimes de exceção, largos períodos de estagnações econômica e cultural. Só para dar um exemplo: a República, que em outras paragens marcou momentos gloriosos ou pelo menos heroicos, entre nós se reduziu praticamente ao marechal Deodoro que andou alguns metros de sua casa até o Ministério da Guerra, para depor o último gabinete do Império.
 
Bem verdade que encontrou o portão fechado, mas o velho cabo de guerra gritou para os sentinelas: "Abram isso! Abram isso!".

Abriram.

Folha de São Paulo, 17/6/2012