Estou, ultimamente, certo de que um fenômeno está surgindo no mundo atual: a compressão do tempo. Ele está cada vez mais chato e achatado. Parece que a cada dia fica mais curto.
O tempo, se examinado retrospectivamente, nos dá uma visão de como os fenômenos ligados à Terra e à vida se sucedem em espaços cada vez mais compactos. Cerca de 13,7 bilhões de anos atrás ocorreu o Big Bang.
O Sistema Solar se formou 9,1 bilhões de anos depois. A Terra viu surgir a vida, bactérias, no seu primeiro bilionésimo.
Só há 245 milhões de anos aparecem os mamíferos. O homem chega há apenas 135 mil anos. De 34 a 16 mil anos atrás, ele faz arte nas cavernas. Há 13 mil, começa a cultivar cereais e a controlar rebanhos.
Cerca de 8.500 anos é a idade de Jericó (Palestina), a primeira grande cidade, com 2.500 habitantes.
Três mil anos depois, é a vez da escrita. A época de ouro é o quinto século a.C.: Confúcio, Buda, os grandes filósofos gregos, República na Grécia e em Roma. O livro tem 500 anos, e o iPad é um bebê de um ano.
Santo Agostinho perguntou e respondeu: "Mas o que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei, mas se eu tentar explicar, não sei".
Sem saber o que é o tempo, o homem sempre tratou de registrar sua passagem -isto é, registrar os movimentos astronômicos como unidades de medida. Os calendários foram se adaptando e ficando cada vez mais precisos em relação ao ano solar.
Mas o ano foi ficando curto, e assim também as semanas, os dias, os minutos, para a quantidade cada vez maior de informação que circula.
Com a comunicação em tempo real e a universalização das fontes, soubemos sobre o pepino espanhol -que não é espanhol e talvez só seja um pepino no sentido de ser um abacaxi- na mesma hora dos alemães. É o tempo comprimido de tal maneira que não temos tempo para refletir; o pensamento é atropelado pela corrente de informações e tem dificuldade em se tornar a origem do ato de criar.
T.S. Eliot, o grande poeta, escreveu que "Tempo presente e tempo passado/ Estão ambos talvez presentes no tempo futuro/ E o tempo futuro contido no tempo passado". Esta visão em que um instante está prenhe de outro, em que futuro, presente e passado se entrelaçam, está cada vez mais viva. Mais do que a frase de Platão -"Tempo é a imagem em movimento da eternidade"-, o poema de Eliot nos explica que o tempo é inexplicável e, pouco ou muito, sempre é a captura de um fragmento de nossas vidas.
É como no velho soneto de frei Antônio das Chagas sobre a vida: "Eu que gastei sem conta tanto tempo..." e "Chorarão se não der tempo".
Diário do Amapá, 21/5/2012