Avança, penosa, no entendimento do novo quadro internacional, uma visão dos Brics transplantada da antiga globalização, permanecendo fiel às polaridades fáceis herdadas da Guerra Fria, e depois, do mundo hegemônico da Era Bush.
Atente-se de saída, a que os novos protagonistas não são, todos, nações em expansão. A Rússia vê-se em queda, após o desmembramento da Ucrânia e a da Bielorrússia, a recupera-se, ainda, da desaparição da União Soviética. Nos Brics figuram nações que viveram a dependência colonial, inclusive, a partir do mais refinado imperialismo, como o Inglês, na Índia novecentista. A África do Sul experimentou uma dupla dominação, dos afrikaaners holandeses, e depois dos britânicos. Experimentamos, os brasileiros, a completa dependência externa, em nossa economia pós-independência.
Todas, entretanto, são nações continentais e, algumas, ainda, no processo de ampla apropriação territorial, onde a nossa Amazônia compete com a Sibéria, de Putin. A China emerge como o país dessa dominação tardia após a Guerra do Ópio e um multi-imperialismo temporão, facilitado pela própria ruína interna do regime. Mas todo o seu passado é do império, voltado para si mesmo - e, sobretudo, o Han -, sem ambição de conquistas, e exposto às episódicas hordas mongóis.
O que entremostram, pois, os Brics, em contrário às polarizações internacionais de há uma década, é essa coexistência inédita - e, inclusive, de larguíssimas vizinhanças - que desmonta , de vez, a velha visão secular de um mundo dividido entre centro e periferias. Mais ainda, o pluridinamismo dos mercados emergentes não exclui as antigas potências hegemônicas na abertura franqueada aos investimentos americanos e europeus, na China. O atual exemplo de Hong Kong é de uma verdadeira caixa de surpresas, numa complementaridade original de iniciativas econômicas, voltada, já, para a criatividade tecnológica e a inventividade, no preparo de um novo consumismo, como pedirá a fruição social Pós-capitalista. De toda forma, e desde já, o que espancam os Brics é toda a ideia de que uma nova globalização no planeta reproduz o sistema, em que o Ocidente, nos últimos séculos, assumia o diktat da prosperidade e da miséria no mundo contemporâneo.
Jornal do Commercio (RJ), 27/4/2012