O governo Rajoy vem de autorizar a dessindicalização do proletariado espanhol. Não se conhece, contemporaneamente, maior golpe ao que se sempre viu como uma conquista definitiva da democracia, independentemente de governos de esquerda ou direita. Do dirigismo, ou da torna aos modelos liberais do fim do século, até como se voltássemos ao mais crasso "salve-se quem puder" pelo emprego, em que o choque de 2088 continua a minar as condições de estabilidade econômica mínima do país. E é nesse despenhadeiro de incertezas que a campanha presidencial de Sarkozy se alinha à direita nas teses, inclusive mais imprevisíveis, ainda, ao início do ano. A bem da proteção ao mercado de trabalho, defende a proscrição migratória, a expulsão de estrangeiros do país, à procura do reforço de forças extremistas que já, por sua vez, querem barrar-lhe a escalada inopinada. É, já, o caso de Marine Le Pen, que, nos últimos dias, ganhou, afinal, o número de assinaturas mínimas - quinhentas, de várias autoridades públicas - para entrar na contenda.
Sarkozy procura fidelidades eleitorais que escapem do econômico e de toda ideia que enseje uma recomposição crível da prosperidade. O contendor Hollande sofre da mesma perplexidade, no entendimento da exaustão da capacidade fiscal francesa, e da consistência de uma proposta de novas iniciativas do estado.
Conhecido pela sua cautela, no partido Socialista, e no desmonte de todo afrodisíaco ideológico, a indecisão que ainda marca o avanço de Hollande não é a do país rachado entre direita e esquerda, mas desse evanescimento dos centros, para onde, poderia convergir o apoliticismo médio de todo o país, seguro de sua estabilidade.
Nem nunca estiveram tão pobres as previsões de avanço dos minipartidos, a disputar o leque clássico de minidiferenças no eixo político tranquilo da França. Sarkozy já começa a pagar o preço de Marine Le Pen. Mas, a esta altura, a vitória de Hollande dependerá de uma frente comum, ainda que tardia, perante um status quo que nunca foi às urnas com bandeiras mais ostensivas de seu direitismo de sempre.
Jornal do Commercio (RJ), 23/3/2012