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O paraíso democrático

 

É conhecida a história do besouro. Uma comissão de técnicos em aerodinâmica, aviões e foguetes espaciais, examinou, com equipamento sofisticado, de última geração, as possibilidades de um besouro voar. E concluiu pela impossibilidade estrutural e operacional: besouro não pode voar.

No entanto, desde que existem na face da Terra, os besouros voam, aparentemente sem muito esforço.

Dos besouros passo para a democracia como instituição política, econômica e social.

Analisada com isenção e bom conhecimento histórico, é a melhor forma que a humanidade encontrou para se governar e agir, tanto no setor público como na vida particular de cada cidadão.

A democracia é como o besouro, mas às avessas. É perfeita, tem todos os equipamentos necessários para gerir a humanidade, criando condições de liberdade, paz e prosperidade. Devia voar ou funcionar, tornando as nações mais perfeitas e justas.

Ela não é nem pode ser questionada. A alternativa seria a ditadura, a tirania.

Aristóteles garantiu que a afirmação de uma coisa não significa a negação de outra. Cara e coroa são faces da mesma moeda.

Para citar Nelson Rodrigues, até as cotias do Campo de Santana conhecem os crimes e aberrações dos regimes totalitários.

A Primavera Árabe tem sido saudada como a nova idade de ouro para a humanidade.

Tanques e canhões do mundo livre formam a corte celestial de justiça e liberdade.

Ouvi um discurso de Obama, já em campanha para a reeleição. Tudo o que disse sobre os problemas que enfrenta e as soluções que propõe poderia ser dito pelos sobas, ditadores e líderes de povos subdesenvolvidos: corrupção, violência e injustiça social no país que é considerado o mais democrático do mundo.
 

Folha de São Paulo, 31/1/2012