Início de ano, tempo de previsões, geralmente furadas. A começar pelas do governo e seus técnicos, sobretudo os economistas. Sem qualquer ilação com os charlatões e pais de santo, que ficam excitados nesta época, anunciando mundos e fundos para seus devotos, gosto de ler as previsões alheias e de fazer as minhas.
Lembro que a mulher de César advertiu-o a não ir ao Senado naqueles idos de março. César foi e se deu mal. Também a mulher de Pilatos mandou um recado para o próprio, que não se metesse a julgar um condenado que o povo queria crucificar.
Consta que em Ajácio, na Córsega, dona Letícia Bonaparte levou um filho recém-nascido para batizar. O padre perguntou o nome do bebê e a mãe informou: "Napoleão Bonaparte". O padre ficou orgulhoso e disse: "Ah! É ele?!".
Como se vê, as previsões são antigas e, mesmo sem ser técnico do governo e pai de santo, também já fiz previsões, algumas deram certo. Não levando a sério o jornalismo e a literatura, mas praticando os dois ofícios por sobrevivência pessoal, durante alguns anos fazia as previsões na revista "Manchete", atribuindo-as a um tal de Allan Richard Way, que morava nos subúrbios de Londres, numa casa estilo Tudor, tinha a honra de ser o único vidente cego da história.
Enchia seis páginas (com fotos dos personagens citados) e entre os palpites que dava, sempre acertava alguns. Previ a eleição do cardeal Albino Luciani, patriarca de Veneza, na sucessão de Paulo VI.
O favorito da mídia era Benelli, mas eu conhecia pessoalmente Luciani, para me livrar de um temporal, entrei na Basílica de São Marcos. Não me expulsou do templo, veio falar comigo, conversamos bastante, apostei nele. Morreu logo, não esquentou no trono de são Pedro. Em compensação, nunca acertei no bicho.
Folha de São Paulo, 3/1/2012