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Doha e a nova globalização

 

Vem de terminar a Conferência das Nações Unidas, em Doha, no debate do que sejam, hoje, as prioridades de uma Aliança das Civilizações. Insistiu na defesa do desenvolvimento sustentável em todas as componentes de uma definitiva conquista da melhoria coletiva em nosso tempo e, sobretudo, na sua dimensão cultural. Ecoou a uma tônica na nossa experiência, nestas últimas décadas, mostrando que não se faz só do econômico e do social a conquista deste "mais ser" coletivo. Ela reclama uma tomada de consciência-fenômeno especificamente cultural - como responsável, tanto pela globalidade dos seus benefícios, quanto, sobretudo, da sua aceleração. É o que marca o nosso país, na busca de uma visão da justiça, no advento da melhoria social.
 
Não é pelos progressismos simplesmente econômicos que se logra esse resultado, mas por uma política pública consciente, qual a que entremostrou o modelo Lula ao mundo, pela imediata redistribuição de renda na mudança.

Foi o que evidenciamos com a saída direta da marginalidade de uma quarta parte da população brasileira, o que só adensa mais esta visão de um destino e de sua responsabilidade política. Avançou-o o governo do PT como uma clara opção, mais do que uma escolha acidental na acolhida, de vez, dos rumos da melhoria verdadeiramente fundadora do país.

A Conferência do Qatar mostrou, sobretudo, como o impulso da mudança parte de um sentimento identitário matriz, e não pode ser dominado por uma ideologia das civilizações como superestrutura do mundo global que se anuncia.

Da mesma forma, há que evitar que esta busca das diferenças se transforme num fundamentalismo estéril, num culto arcaizante de um passado contra os velhos imperialismos ocidentais do século XIX. Impõe-se, sim, esta visão prospectiva, em que a garantia da diferença é, também, a de um multiculturalismo, e mais uma vez, aí, foi o Brasil a menção exemplar, na sua acomodação de tantas vagas migratórias, de par com a nossa convivência racial, tão em contraste com a tradição americana. Nem sem razão, nosso país marcou o seu destaque, já, para além do quadro obsoleto da globalização. Isto é, o de pensar-se, ainda, em centros e periferias, por vinculações continentais à margem da sua prospectiva. Ou, sobretudo, na afirmação da profundidade de nossa conduta democrática.

Na galeria dos BRICs confrontamo-nos não só à China e à Rússia, mas à própria índia, tanto, ainda que formalmente democrática, mantém o regime dos párias. Não somos apenas uma nação latino-americana, mas um protagonista na bacia atlântica do avanço, num mundo global, das diferenças e das liberdades.

Não somos apenas uma nação latino-americana, mas um protagonista na bacia atlântica do avanço, num mundo global, das diferenças e das liberdades. Não é pelos progressismos simplesmente econômicos que se logra esse resultado, mas por uma política pública consciente.

Jornal do Commercio (RJ), 16/12/2011