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Uma estranha invasão

 

Somos entusiastas de todas as iniciativas que envolvem a proteção à infância e à adolescência, em nosso País. Elas são poucas, se comparado o vulto das necessidades.

Todos os anos, a Rede Globo, numa promoção benemérita, faz o "Criança Esperança", mobilizando o sentimento nacional de solidariedade, com doações que se destinam a instituições sérias.
 
O que não entendemos é porque o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) tem tanta ingerência na vida brasileira. O evento global é feito com "o apoio da entidade. Até aí tudo bem. Mas ela também divulga informações equivocadas sobre a nossa realidade, 'como se fosse um IBGE ou um "IPEA, só que sobre esses não paira nunca dúvida sobre os "seus dados".

Agora mesmo, o Unicef, que certamente deveria estar muito mais preocupado com o que se passa, em termos de "miséria, na África, por exemplo, ao apresentar o relatório "Situação da Adolescência "Brasileira-2011 "deu um tiro nágua, revelando que o percentual de adolescentes entre 15 e 17 anos fora da escola  no País é de 20%. Um lamentável equívoco, pois o índice correto é de 14,8%. Logo, o estudo ficou prejudicado pela falta de credibilidade dos seus autores, capazes de um erro primário dessa natureza.

É claro que haveria reação das nossas autoridades. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, com quem O problema não está em que a agência internacional utilize os dados corretos. O que gostaríamos de saber é a razão desses estudos, que podem servir de base para críticas internacionais infundadas  estivemos na semana passada, apressou-se a contestar o citado relatório: segundo ela, a população de adolescentes extremamente pobres no Brasil diminuiu: "Temos hoje menos jovens entre 12 e 17 anos pobres e extremamente pobres do que tínhamos em 2004."São famílias que percebem até um quarto de salário mínimo per capita. A quantidade de adolescentes nessas condições passou de 6,58 mil para 4,44 mil.

Houve um erro metodológico do Unicef, utilizando dados do salário mínimo, que no período cresceu acima da inflação. Por isso é que comemoramos hoje o crescimento da população que se encontra nas classes C e D.
 
O problema não está em que a agência internacional utilize os dados corretos. O que gostaríamos de saber é a razão desses estudos, que podem servir de base para críticas internacionais infundadas. Temos organismos primorosos de pesquisa e suas fontes são seguras, merecendo total credibilidade. Ninguém vai elaborar um plano de governo com dados de fora (e por fora).

Registra-se no Brasil uma redução do índice demográfico, ou seja, não existe mais aquela explosão de filhos, que marcou outro período da nossa vida republicana. Mesmo assim, temos 10,2 milhões de pessoas de 12 a 17 anos de idade em condições de pobreza. Na infância, 3% deles estão fora da escola e no ensino médio apenas 51% frequentam a escola, com uma taxa de abandono que se aproxima dos 12%. Isso é que nos preocupa, pois atinge particularmente os estamentos sociais mais baixos, futuros clientes dos programas de alfabetização de adultos.

Jornal do Commercio (RJ), 9/12/2011