Quando Stálin morreu em sua "datcha" de Kuntsevo, em 5 de março de 1953, houve perplexidade em todo o mundo pela demora com que o fato foi anunciado.
A desculpa que os hierarcas do regime comunista deram pela demora foi a de evitar o impacto na alma do povo russo, que idolatrava o Guia Genial dos Povos.
Houve até quem temesse que o sol não nasceria no dia seguinte; a morte de Stálin desestabilizava não apenas a história, mas o próprio Universo.
Como acontece sempre que um ditador morre, a sucessão foi complicada, cheia de golpes, baixos alguns, baixíssimos outros.
Evidente que os serviços de inteligência dos principais países, sobretudo os dos Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Alemanha investigaram a possibilidade de um assassinato, mas as coisas no Kremlin daquele tempo corriam sob controle do pequeno grupo que integrava o primeiro escalão de Stálin, um anel de aço impedindo que os movimentos no núcleo se propagassem para a periferia.
Cinquenta anos após a morte do Pápuska Stálin, o historiador russo Edvard Radzinsky afirma que, tal como no caso de Napoleão, o ditador soviético foi envenenado.
O responsável seria o comandante da sua guarda, o coronel I. Khrustalev, a mando de Beria.
Radzinsky está baseado no testemunho de Piotra Lozgachev, um dos guardas próximos de Stálin. Na noite de 28 de fevereiro de 1953, o ditador assistira a um filme na cabine do Kremlin, em companhia de seu Estado maior (Lavrenti Beria, Nikita Khruschov, Georgi Malenkov e Nicolai Bulganin).
Em seguida, foram jantar na "datcha" de Kuntsevo, nas proximidades de Moscou.
Após a retirada dos convidados, na madrugada do dia 1° de março, Stalin teria dado ordens para que seus guardas fossem dormir, mas, segundo Lozgachev, a ordem não partira do ditador, mas do chefe da guarda, Khrustalev.
No dia seguinte, os guardas ficaram preocupados porque passava do meio-dia e Stálin ainda não saíra do quarto. Ninguém se atrevia a incomodá-lo. Às 22h30, Lozgachev decidiu verificar o que se passava e encontrou Stálin caído no chão, sem conseguir falar. Os guardas avisaram aos dirigentes, mas eles não quiseram chamar os médicos.
Um deles, Beria, disse: "Vocês não estão vendo que o camarada Stálin está dormindo?" Quando os médicos chegaram, já 14 horas haviam se passado desde que Stálin sofrera, segundo laudo oficial, uma hemorragia cerebral.
Esses teriam sido os fatos, bastante prováveis, por sinal, para quem conhece os bastidores de qualquer poder ditatorial.
O historiador russo que levantou o caso atribui o atentado ao receio que os assessores mais próximos de Stálin tinham de uma Terceira Guerra Mundial, para a qual a União Soviética ainda não estava preparada.
Julgavam que Stálin, no início dos anos 50, estaria saudoso do prestígio e da glória de ter resistido a Hitler e o derrotado: soldados russos foram os primeiros a penetrar no bunker de Potsdamer Platz, onde o líder nazista se suicidara pouco antes.
Stálin capitalizou, com justiça, é bom que se diga, o heroísmo da resistência e a definitiva vitória sobre Hitler, embora ao altíssimo custo de milhões de russos que deram suas vidas para o triunfo final.
No começo dos anos 50, ele manobrava sub-repticiamente para um confronto com seus antigos aliados, confiando na obstinada resistência do povo russo em vencer aqueles que ousavam invadir seu território, fossem eles um Napoleão ou um Hitler.
Enquanto Stálin manobrava com os olhos postos na história e na sua biografia, os hierarcas do Kremlin não sabiam o que fazer para deter a megalomania do chefe.
Ele não se convenceria com nenhum argumento de ordem técnica ou política. Desejava passar à posteridade como o maior nome do século 20.
A teoria do historiador Radzinsky poderá ser comprovada um dia, mas a verdade é que, no contexto da situação soviética daquela época, a liderança de Stálin já estava exausta, e a corte de um ditador alimenta toda espécie de víboras que desejam sucedê-lo.
Tanto foi verdade que a nova ordem que assumiu o poder no Kremlin, sob o comando de Khruschov, na primeira oportunidade se livrou de Beria, condenando-o ao fuzilamento.